quarta-feira, 29 de abril de 2020

Previdência Social


Olá pessoal,                                                                                                                                                                   
                            
  Hoje eu vou desmistificar o mito que mais prevalece no nosso país em relação à aposentadoria e investimentos, que é o de que a Previdência Social é e sempre será sustentável, aconteça o que acontecer, e que ela é suficiente para a aposentadoria.  
 Quanto à sustentabilidade, o leitor deve saber que existe uma pequena possibilidade, mesmo que remota, do governo congelar as aposentadorias por tempo indeterminado, ou seja, pagar as aposentadorias sem dar reajuste a todos os aposentados de forma equânime por até vários anos. Quem já tem uma certa idade com certeza se recorda do Plano Collor, onde o Presidente da República Fernando Collor de Melo, que mais tarde viria a sofrer um impeachment, congelou as contas correntes e as cadernetas de poupança por 18 meses. Imaginem uma medida como essa sendo tomada nos dias de hoje em nosso país. Seria terrível não é mesmo? Crises econômicas sempre aparecem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo e medidas draconianas como essa podem voltar a acontecer.
  Mas aí o leitor deve pensar: “tudo bem, por mim não tem problema receber a minha aposentadoria sem ter reajuste por vários anos”. E é aqui que mora o problema. Enquanto o congelamento perdurar, o poder de compra da sua aposentadoria diminuirá gradativamente, mesmo que seja em um período de deflação ou baixa inflação. Mas o leitor ainda deve estar se perguntando: “Mas por que você acha que isso poderá acontecer com as nossas aposentadorias?”. Quem é minimamente informado sabe que houve recentemente em nosso país uma reforma previdenciária com uma previsão de economia na casa dos trilhões de reais em décadas. E por qual motivo fizeram essa reforma? Simples: a Previdência Social está se tornando cada vez mais insustentável. Mas fiquem sabendo que essa insustentabilidade previdenciária não é um problema exclusivamente brasileiro. Vários outros países ao redor do mundo estão enfrentando a mesma dificuldade e se vendo obrigados a reformarem também os seus sistemas de previdência social. E o principal motivo para tamanha dificuldade se deve às pressões demográficas na maioria dos países, ou seja, as populações de idosos estão aumentando sensivelmente. No caso específico do Brasil, estima-se que em 2050 a população de 60 anos ou mais será de 68 milhões de habitantes, conforme o gráfico abaixo.



  E ainda existem estudos do governo e de alguns economistas que apontam para a necessidade de reformar a nossa Previdência Social novamente em menos de uma década, justamente pelo fato de que os brasileiros estão vivendo mais e as famílias estão tendo menos filhos. Com isso, menos jovens entrarão no mercado de trabalho e mais idosos viverão mais tempo precisando da aposentadoria para sobreviver. A conta não vai fechar.  
  Quanto à suficiência para a aposentadoria, é do conhecimento de todos que o cálculo do valor das aposentadorias baseia-se na média salarial de todo o período contributivo, ou seja, boa parte do total contribuído para a Previdência Social não retorna para o trabalhador na aposentadoria. Isto ocorre pelo fato da Previdência Social funcionar pelo regime de repartição, onde a arrecadação se dá pela cobrança de contribuição das pessoas que estão em atividade para o financiamento das aposentadorias daqueles que já estão aposentados. Para vocês terem uma ideia, a única forma de se aposentar com o teto da Previdência Social é contribuir com 14% (após a reforma) do valor do teto durante 40 anos, além de ter a idade mínima e o tempo de contribuição suficiente para se aposentar com o valor máximo. Acredito que isso seja para poucos brasileiros e, convenhamos você não vai querer aguardar tanto tempo para se aposentar com uma boa aposentadoria.
  Perceba, meu caro leitor, que a sua contribuição previdenciária tem uma natureza de imposto, pois ele é obrigatório – para quem é empregado com carteira assinada ou é funcionário público – e destinado ao financiamento das aposentadorias vigentes. Apenas uma parte do que você contribuiu voltará para você no futuro. Procure contar com a Previdência Social para lhe amparar em casos de doença, acidente e maternidade e para ajudar financeiramente aquelas pessoas que você ama. Mas não conte integralmente com ela para a sua aposentadoria. Combinado?

Abraços,
Seja Independente


domingo, 26 de abril de 2020

Tenha uma proteção cambial na sua carteira


Olá pessoal,                                                                                                                                                                   
                            
  Como muitos devem saber o ministro da justiça Sérgio Moro pediu demissão nesta sexta-feira de forma não amigável e com isso instalou-se uma grave crise institucional dentro do governo federal. Isso porque o ministro era tido como o pilar moral do governo de Jair Bolsonaro por ter sido uma figura emblemática na operação Lava-Jato. Com esse fato ocorrido constata-se mais uma vez o quão frágil e instável é o nosso país do ponto de vista político, impactando fortemente a economia nacional. Sendo assim, a crise causada pela pandemia da covid-19 se aprofunda ainda mais no nosso país, derrubando ainda mais a confiança daqueles que pretendem investir no nosso país e, consequentemente, aumentando o risco-país que por sua vez se reflete na piora dos indicadores econômicos, como o câmbio, por exemplo.   



  Já faz um bom tempo que eu venho alertando aqui no blog, desde o início do governo de Jair Bolsonaro (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui) e (ver aqui), que o futuro do nosso país ainda é incerto e, resumidamente, ainda estamos num longo processo de amadurecimento institucional, democrático e econômico que não sabemos por quanto tempo irá durar (talvez várias décadas). E, sendo assim, é primordial para o investidor brasileiro contar com uma proteção (hedge) cambial na sua carteira. Recomendo ter ao menos 10% da carteira alocado em ativos internacionais, independente de qual forma (corretora brasileira ou corretora norte-americana). E talvez o leitor se pergunte: “por que é tão importante essa tal proteção (hedge) cambial?”. Porque a inflação que corrói o nosso poder de compra no longo prazo é composta basicamente por itens precificados em dólar norte-americano. Pare para analisar quantos bens e serviços que você e sua família consomem ao longo do tempo são importados ou os insumos que os compõem são importados. São muitos não é mesmo? Os ativos de renda fixa atrelados à inflação, como o título público Tesouro IPCA+ 2035 ou um CDB de longo prazo indexado ao IPCA de algum bancão, não serão nem de longe suficientes para repor o poder de compra perdido ao longo dos anos. Isso porque, conforme eu expliquei neste artigo aqui em 2018, o IPCA (índice oficial da inflação no Brasil) divulgado pelo IBGE anualmente não reflete necessariamente a inflação dos bens e serviços consumidos por você e sua família em um determinado período, pois o IPCA é uma média e, sendo assim, não representa a “verdadeira corrosão” do poder de compra da sua renda. Eu mesmo tenho um exemplo pessoal bem prático desse fenômeno: comprei um remédio importado, fabricado na Espanha, para uma pessoa da minha família há 01 (um) mês atrás por R$76,50 e ontem comprei novamente por R$105,60. Um aumento de 38% em um mês (pasmem). E isso ocorre porque o real se desvalorizou bastante nesse último mês.                           
  Muitos investidores podem refutar essa minha tese alegando que grandes investidores brasileiros, como o Luiz Barsi Filho, o maior investidor pessoa física da bolsa brasileira, nunca investiram em ativos internacionais para chegar aonde chegaram. Mas será mesmo? O investidor deve analisar a seguinte situação: investidores como o senhor Luiz Barsi Filho começaram a investir há várias décadas atrás numa época em que o mercado acionário era pouco disseminado entre os brasileiros, sendo restrito a um ínfimo grupo de investidores. Ora, se a própria bolsa de valores do país era pouquíssimo requisitada nessa época, o que dizer do mercado acionário estrangeiro? Acredito (posso estar enganado) que na época os investidores faziam o hedge cambial comprando dólares ou investindo em fundos cambiais atrelados ao dólar através de grandes bancos de investimento. É diferente de hoje em dia onde o mercado acionário norte-americano é muito mais acessível ao investidor. E tem mais um detalhe que poucos prestam atenção: é possível fazer o hedge cambial investindo em ações de empresas exportadoras, pois as receitas delas são precificadas em dólar. Mas para isso é necessário estudar a fundo essas empresas, saber com detalhes quais são os business delas. São para poucos. Esse expediente foi utilizado por grandes investidores brasileiros, principalmente pelo senhor Luiz Barsi Filho, que investiu em empresas exportadoras de papel e celulose, como a Klabin e a Suzano (ver esse vídeo). Além do mais, acredito que ele tenha algum dinheiro aplicado em fundos cambiais, mesmo que ele não revele em suas aparições públicas.  
         
Luiz Barsi Filho

  Enfim, cabe ao investidor ponderar todos os fatores antes de tomar qualquer decisão de investimento. Não é uma decisão fácil. Mas pare para pensar: se você é um investidor que consome muitos produtos importados e viaja bastante para o exterior, será que apenas investindo localmente e contribuindo para a previdência social você conseguirá manter o poder de compra da sua renda? Pense nisso.

Abraços,
Seja Independente


terça-feira, 21 de abril de 2020

Algumas falácias...


Olá pessoal,                                                                                                                                                                   
                            
  Hoje eu vou falar sobre algumas falácias que ouço e vejo sendo propagadas por muitas pessoas nos veículos de comunicação. Essas falácias são sintomas de uma sociedade sem educação financeira que ao longo de décadas vem sendo manipulada por governos populistas através de retóricas cheias de demagogia, ideologias obsoletas e interesses escusos por trás delas. Não me refiro única e exclusivamente ao Brasil, mas também a muitos outros países, inclusive desenvolvidos (alta renda per capita).  
  A primeira falácia é a de que dinheiro pode ser criado do nada, que dinheiro “nasce em árvore”. Muitas pessoas, nesse momento, advogam a favor da impressão de dinheiro pelos bancos centrais para fazer política anticíclica. O dinheiro, que é uma convenção social criada pelo homem para facilitar o comércio, deve ser criado pelo homem através da produção de um bem ou serviço, e não de forma artificial pelo governo. O dinheiro, portanto, é uma mercadoria como qualquer outra que sofre os efeitos da oferta e da demanda. Se o governo cria dinheiro do nada em larga escala, ele aumenta desproporcionalmente a sua oferta na economia (expande a sua base monetária), pois ao colocar mais dinheiro nas mãos das pessoas, ele aumenta a demanda por bens e serviços, mas sem um aumento respectivo da oferta deles. Sendo assim, a inflação aumenta mais rapidamente, fazendo com que o dinheiro (moeda) perca mais valor rapidamente, aumentando a necessidade de “despejar” mais dinheiro da economia, virando assim uma bola de neve que irá desencadear o que conhecemos como hiperinflação. Nós, brasileiros, sabemos do que se trata essa anomalia, pois sentimos isso na pele nas décadas de 80 e 90. O nosso país vizinho, Venezuela, já está há um bom tempo nesse processo hiperinflacionário. Para se ter uma ideia, para comprar uma xícara de café em 2018 eram necessários 2 milhões de bolívares (fonte). É necessário que as pessoas entendam de uma vez por todas que não existe o dinheiro dos impostos, mas sim o dinheiro produzido pela sociedade através da produção de bens e serviços.                  
  A segunda falácia é a de que para resolver o problema da educação basta investir recursos públicos de forma massiva na rede pública de ensino. Se isso fosse verdade o Brasil já estaria no topo do ranking de países com a melhor qualidade de ensino. Mas na verdade amargamos as últimas posições. O que é necessário, de fato, para alçar o ensino público brasileiro ao topo do ranking é investir os recursos públicos com eficiência, implementando um plano nacional de meritocracia para os professores inclusive com a fixação de um piso salarial atrativo para a categoria, focando os recursos nos ensinos básico, fundamental e técnico, e reestruturando o ensino superior priorizando cursos que agreguem mais valor para a sociedade. Sem contar a necessidade de se eliminar a doutrinação político-partidária dentro das escolas. Recomendo a todos assistirem no youtube a trilogia Pátria Educadora do canal Brasil Paralelo.    
  A terceira falácia é a de que os bancos são os principais culpados pela crise econômica brasileira que já dura quase uma década. Não estou aqui defendendo banqueiro até porque eles também têm uma parcela de culpa explorando a ignorância financeira dos brasileiros. Mas o fato é que há várias décadas os governos e os banqueiros vêm mantendo uma espécie de conluio para explorar as massas no nosso país. Não adianta culpar apenas os banqueiros se os governantes são perdulários, gastando bem mais do que arrecadam, pedindo socorro aos bancos, seja através de empréstimos diretos, seja através de fundos de investimento (onde os bancos ganham com taxas de administração abusivas). A tão criticada concentração bancária (os cinco bancões) que existe no nosso país foi sendo arquitetada e construída ao longo das décadas em frente aos nossos olhos contando com a conivência dos políticos. Sem contar que o governo tem a sua participação nessa concentração bancária e consequente exploração das massas através de dois bancos estatais. Ou seja, o governo arrecada os impostos pagos pelos contribuintes para investir em bancos que por sua vez retiram mais recursos dos contribuintes. Ganha nas duas pontas. Retira de um bolso e retira mais um pouco do outro bolso do já esfolado contribuinte. É surreal, triste e deplorável.
  A quarta e última falácia é a de que apenas os ricos têm condições de investir e que os pobres não têm condições porque ganham muito pouco e não sobram recursos para investir. Mentira! Os mais pobres têm condições sim de investir, bastando ter disciplina para poupar e investir assim que recebe o salário. Obviamente que esse público deverá priorizar a reserva de emergência até ter recursos suficientes para investir em renda variável, pois quanto menos recursos são poupados e investidos, maiores deverão ser a segurança e a liquidez nos investimentos. Os pobres não investem no Brasil por falta de educação financeira e não por falta de recurso, pois desde cedo as pessoas de baixa renda são incentivadas pelos bancos e pelo governo a contrair empréstimos (o conluio citado acima) impedindo-as de poupar e investir para alçar a um patamar financeiro mais elevado. Acredito que talvez essa seja a falácia mais propagada pela elite político-econômica brasileira justamente por beneficiá-los de uma forma mais fácil por não haver no nosso país uma classe dominante que tenha um pensamento contrário.
  Enfim, poderia passar o resto do mês escrevendo sobre mais falácias (sem exagero) pelo fato de haver muita distorção dos fatos por parte das elites dominantes, contando com a ajuda, obviamente, de uma imprensa doutrinada e comprada. Mas essas falácias descritas por mim aqui neste artigo são as mais latentes e perniciosas que eu vejo e que impedem o crescimento econômico do nosso país.

Abraços,
Seja Independente

sábado, 18 de abril de 2020

ETF (Exchange Traded Funds)

Olá pessoal,                                                                                                                                                                   
                            
  Hoje eu vou falar sobre o ETF (Exchange Traded Funds), as suas vantagens e desvantagens e a função que ele desempenha numa carteira de investimentos. Já citei essa modalidade de investimento em diversos artigos do blog (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui) e (ver aqui). Eu sei, já falei muito sobre ele nesse blog, mas nesse artigo procurarei explorar mais o conceito dele.      
  Afinal, o que é um ETF? ETF é um fundo negociado em bolsa de valores e que pode ser constituído pelas mais diferentes classes de ativos, como ações, fundos imobiliários, títulos de renda fixa, commodities, moedas, etc. Mas, ao contrário dos fundos tradicionais em que o investidor aplica e resgata os recursos do fundo, no ETF você compra e vende as cotas de outro investidor em ambiente de bolsa, da mesma forma das ações e dos fundos imobiliários. Ou seja, a cota apenas muda de dono e os ativos que o fundo possui não precisam ser negociados, preservando o patrimônio. Outra diferença em relação aos fundos tradicionais é a facilidade de acesso, pois nos tradicionais exige-se um valor mínimo para aplicação inicial que muitas vezes costuma ser alto para a maioria dos investidores. Já no ETF o lote padrão é de 10 cotas. O ETF IVVB11 está cotado a R$ 162,10 neste momento (fonte). Então o valor mínimo da aplicação inicial agora seria de R$ 1.621,00 fora a corretagem e os emolumentos da B³. O investidor pode pesquisar agora nas plataformas das corretoras onde possui conta e que distribuem cotas de fundos tradicionais que aplicam recursos no exterior, como a Rico e a XP, os valores mínimos exigidos para cada aplicação para efeito de comparação. Outra vantagem do ETF é a baixa taxa de administração, contribuindo para a formação de patrimônio do investidor no longo prazo. O ETF IVVB11, por exemplo, tem taxa de administração de 0,24% ao ano (fonte). Os fundos tradicionais de mesma natureza costumam cobrar taxas de administração bem mais altas. Outra vantagem do ETF é que eles são mais rentáveis por replicarem um índice de uma determinada classe de ativos, ou seja, são fundos passivos que seguem um determinado benchmarking. Portanto, eles não tentam bater os índices de mercado através da gestão ativa do portfólio. Existem diversos estudos que comprovam que os fundos ativos em sua grande maioria não conseguem bater o seu índice de mercado (benchmarking) no longo prazo, pelo contrário, perdem feio (leiam esse livro). E por serem passivos eles também se tornam mais práticos para o investidor, pois o mesmo não precisa ficar analisando centenas de ações, fundos imobiliários, títulos de renda fixa etc. Essa vantagem se torna mais evidente ao investir no exterior, pois se para selecionar ações no Brasil já toma tempo, avalie nos EUA que é de longe a maior bolsa do mundo. A não ser que você seja um analista ou gestor de um fundo de ações e viva apenas disso, o que não é o caso da maioria dos investidores. No Brasil para quem gosta de investir e tem um pouco de conhecimento é preferível investir de forma individual, na minha opinião.     
  Mas como não existe almoço grátis, sempre existem as desvantagens. A primeira delas é a tributação do ganho de capital na venda das cotas, pois o ETF não conta com a isenção do imposto de renda nas vendas mensais de ações cujo valor total não ultrapasse R$20.000,00. A alíquota de IR é de 15%. Mas se o investidor analisar num contexto mais abrangente verá que essa desvantagem é compensada pelo fato de que existe isenção de IR na compra e venda de ações realizadas pelo gestor do ETF, já que o índice acionário muda de composição periodicamente. No caso de uma carteira individual o investidor ao fazer mudanças na carteira teria um custo tributário muito mais elevado. Portanto, não é bem uma desvantagem dependendo do ponto de vista. Outra desvantagem é a de que o investidor terá uma rentabilidade bem menor no longo prazo, já que pelo fato do índice ser composto também por ações de péssimas empresas ele terá uma performance bem menor do que uma carteira composta somente por ações de boas empresas. Outra desvantagem é a de que os dividendos pagos pelas empresas detentoras das ações que compõe o ETF não são distribuídos aos cotistas, mas sim reinvestidos dentro do próprio ETF. Para quem deseja renda passiva única e exclusivamente, esse talvez não seja o melhor ativo para se investir. Outra desvantagem é a possibilidade de fechamento do ETF, interrompendo momentaneamente o planejamento de longo prazo do investidor e podendo gerar custos tributários adicionais.
  Enfim, não recomendo o investimento integral em ETFs indistintamente, mas apenas recomendo que o investidor considere essa modalidade de investimento para a sua carteira previdenciária, por serem práticas, razoavelmente rentáveis e acessíveis. No meu ponto de vista têm a função primordial de descorrelacionar os ativos de renda variável que compõe a carteira, principalmente ao investir no exterior (diversificação geográfica). Mas recomendo muita cautela ao investir em mais de um ETF, pois ao investir em apenas um o investidor já estará diversificando bastante. Investindo em vários se corre o risco de pulverizar a sua carteira, ao invés de diversificar. Fica a dica.     

Abraços,
Seja Independente

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O que é minimalismo e qual é a sua importância para o investidor?

Olá pessoal,                                                                                                                                                                   
                            
  Hoje eu vou falar sobre uma filosofia de vida que é de suma importância para o investidor. Trata-se do minimalismo. Com certeza você, caro leitor, já ouviu falar nessa expressão algumas vezes. Existe até um documentário no Netflix sobre o tema (ver aqui). Recomendo que assistam. Mas afinal, o que é minimalismo? Minimalismo se resume, em poucas palavras, a uma simplificação da vida através da eliminação de bens em excesso. Não é uma filosofia de vida radical que prega a total renúncia dos bens materiais e o obriga a levar uma vida franciscana. Definitivamente não é isso. Apenas aconselha a evitar compras por impulso de bens que geram uma satisfação momentânea, mas que não serão usadas.



   E qual é a importância desse estilo ou filosofia de vida para o investidor de longo prazo? A importância é a de que uma vez implementado esse estilo de vida, mais equilibrado será o orçamento do investidor, aumentando os valores a serem poupados e investidos. E quanto mais cedo for implementado esse estilo, alinhado a um aumento gradativo dos rendimentos, maior será o efeito dos juros compostos nos investimentos, antecipando os objetivos estabelecidos pelo investidor. Com essa antecipação o investidor terá mais tempo no futuro para compartilhar momentos de felicidade com a sua família, ajudar pessoas e trabalhar apenas por prazer e não como uma obrigação necessária para pagar as contas. Lembrem-se sempre que as variáveis mais importantes para se alcançar os objetivos financeiros através dos investimentos são o tempo e o aporte. E o minimalismo cai como uma luva nesse planejamento. Há quem critique esse estilo de vida, alegando que dinheiro traz felicidade e que a vida deve ser aproveitada ao máximo. Mas faço aqui algumas ponderações. Primeiro, nunca saberemos como será o nosso futuro financeiro, por mais otimistas que sejamos. Por mais esforçado que você seja nem sempre temos a sorte necessária para conseguir uma promoção na carreira ou um crescimento expressivo da empresa, além de vários infortúnios poderem acontecer com você e com a sua família. E segundo, já foi comprovado através de estudos que acima de uma determinada renda mais dinheiro não traz mais felicidade. Existem vários outros elementos essenciais para trazer mais felicidade, além do dinheiro, como cultivar boas relações humanas, gozar de boa saúde, ser reconhecido profissionalmente, etc.
  Além da sua importância para os investidores, esse estilo de vida também tem a sua importância para a humanidade. Já pararam para pensar em quantos bens supérfluos, quantas excentricidades e quantos insumos essenciais para a vida humana desperdiçados poderiam ser revertidos para o combate à diminuição da fome, das doenças e das guerras? Quantas vidas humanas poderiam estar sendo salvas agora nessa pandemia, por exemplo? Vejam bem, não estou aqui querendo pagar de bom samaritano, até porque ninguém nesse mundo é plenamente santo. Mas vocês já pararam para pensar qual deveria ser o verdadeiro propósito de nossas vidas? Reflitam a respeito antes de fazer qualquer compra desnecessária. É um favor que você faz a você mesmo e ao próximo. O mundo agradece!


Abraços,
Seja Independente

terça-feira, 14 de abril de 2020

O futuro do nosso país


Olá pessoal,              
                            
  Quem leu meu último artigo e leu esse artigo no ano passado aqui no blog (ver aqui) deve estar achando estranho o que eu escrevi, como se eu estivesse me contradizendo. Alguns podem estar pensando: “ano passado você estava otimista e agora está pessimista quanto ao futuro do Brasil?”. Mas eu não estou pessimista. Eu estou cético. É um pouco diferente. Vou explicar melhor o que eu quero dizer.    
  Quando você está pessimista em relação a alguma coisa, você está seguro de que o resultado não será satisfatório com base em argumentos contundentes que corroboram tal pensamento. Mas quando você está cético em relação a alguma coisa, você fica em dúvida se o resultado esperado poderá ser alcançado satisfatoriamente com base em argumentos desfavoráveis que põem em xeque os argumentos favoráveis. E é esse o meu pensamento em relação ao nosso país. Existem alguns detalhes que não esmiucei no artigo do ano passado e que podem influenciar no desempenho futuro da economia brasileira. Não sei se o caro leitor já percebeu isso, mas além de continuarmos com um desempenho econômico medíocre, no campo político não temos nenhuma perspectiva de melhora no curto prazo. E isso de certa forma trava o andamento das reformas estruturantes necessárias para o nosso crescimento econômico. Para piorar ainda mais a situação no curto prazo, essa pandemia maldita acarretará mais uma recessão econômica no nosso país. Será o terceiro ano de recessão em uma década. A nossa situação fiscal já está catastrófica com uma dívida bruta correspondente a quase 80% do PIB (ver aqui). Com as medidas anticíclicas adotadas pelo Banco Central essa relação pode chegar a 91% do PIB neste ano (ver aqui). O cenário não é nada animador. No médio prazo não temos nenhuma ideia de quem poderá ganhar a eleição presidencial, podendo acontecer a mesma coisa que aconteceu na Argentina no ano passado.   
  Mas a minha grande preocupação é em relação ao longo prazo. Além dos fatores já frisados tantas vezes nos meus artigos sobre o nosso país, como a perda do bônus demográfico e o péssimo desempenho educacional dos nossos jovens, existem outros fatores que podem impactar negativamente o nosso futuro. Um deles é o nosso atraso tecnológico. O mundo atual se desenvolve através do descobrimento de novas tecnologias nos mais diversos setores da economia. O problema, meu caro leitor, é que esse desenvolvimento acontece numa velocidade impressionante. E quanto maior for essa velocidade, mais para trás ficarão os países emergentes dependentes de commodities, cujos déficits colossais em suas balanças comerciais serão mais frequentes. Outro fator é a insegurança jurídica que permeia todo o nosso ordenamento jurídico. Quem é empresário no Brasil sabe o quão difícil é lidar com essa insegurança nas mais diversas áreas (veja esse artigo). Para vocês terem uma ideia da loucura que é acompanhar as normas tributárias no nosso país, leiam esse estudo do IBPT (ver aqui). É surreal. Isso desanima muitos empreendedores brasileiros e afugenta o investidor estrangeiro. Poderia citar outros fatores aqui, mas para não me estender muito preferi destacar esses dois que eu considero mais evidentes. Sem contar que eu poderia adentrar em outras searas, como a política, por exemplo. Prefiro não adentrar. Poderia criar uma polêmica sem fim e não levar a lugar nenhum.      
  Vejam bem, não estou tentando convencer ninguém a resgatar todos os investimentos nacionais e transferir para o exterior. Apenas estou alertando que TALVEZ seria interessante diversificar geograficamente. E a melhor alternativa é os EUA, que é um país que se caracteriza por sua solidez econômica e pelo seu respeito à propriedade privada. Sem contar que ao investir em ativos norte-americanos o brasileiro estará diversificando também no câmbio (dólar). Enfim, não é uma decisão fácil de ser tomada. Depende muito do perfil do investidor. A minha única recomendação é estudar!


Abraços,
Seja Independente


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Estamos nos encaminhando para uma depressão econômica global?


Olá pessoal,
                            
  Hoje eu vou falar sobre um tema que é recorrente nas mídias especializadas em investimentos já faz algum tempo, até mesmo antes da atual crise. Muitos até consideram a pandemia do covid-19 como a agulha que vai estourar a bolha inflada pelos principais bancos centrais ao redor do mundo, causando a maior depressão econômica mundial dos últimos 70 anos como muitos afirmam. Alguns até afirmam que essa depressão seria pior do que a grande depressão da década de 30 causada pela quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929. E isso seria muito ruim no longo prazo para os investimentos em renda variável. Mas não há motivo para tanto desespero. Vou explicar melhor.  
  Desde a crise do subprime em 2008 nos EUA, os bancos centrais vêm cortando juros para expandir a base monetária em nível planetário, contribuindo para o aumento substancial das dívidas de todo o sistema financeiro mundial, incluindo os próprios bancos centrais, bancos, empresas e famílias, num processo conhecido como QE (Quantitative Easing) (ver aqui). Isso já vinha sendo discutido por muitos economistas bem antes da eclosão dessa pandemia e muitos deles criticaram essa política monetária agressiva adotada pelos países afirmando que os bancos centrais estão sem munição e assim podemos estar perto do “pico do capitalismo” como também afirmaram que esse ano de 2020 será um ponto de inflexão (ver aqui). Diante desse cenário estarrecedor muitos podem estar se perguntando agora: será que não é mais prudente resgatar integralmente todo o dinheiro investido no mercado financeiro, sacar uma boa parte em dinheiro vivo e comprar ouro físico para guardar tudo no cofre, e aguardar essa crise passar? A história fala por si só. Nos últimos 100 anos o mundo passou por diversas crises econômicas, causadas pelos mais diversos motivos, como surtos epidêmicos (gripe espanhola), guerras mundiais, guerras regionais, moratórias de países emergentes, embargos econômicos e choques inflacionários (ver aqui). E mesmo assim o mundo não acabou e as pessoas continuaram trabalhando, investindo e prosperando. Muitos investidores de sucesso, como Warren Buffett, passaram por várias dessas crises e não quebraram, pelo contrário, enriqueceram como nunca. No Brasil, o maior investidor pessoa física da bolsa de valores, Luiz Barsi, começou a investir na década de 70 e passou por diversas crises nacionais, como a hiperinflação das décadas de 80 e 90, impeachment de dois presidentes e dezenas de crises institucionais (veja essa entrevista dele aqui).
  Mas não estou sugerindo e nem aconselho que os investidores invistam da mesma forma que Luiz Barsi e Warren Buffett investem. Esses investidores começaram cedo, estudaram o mercado acionário e contaram com grandes reservas. Nem todo investidor tem o perfil necessário para alcançar resultados semelhantes no longo prazo. Eu sugiro que o investidor diversifique os seus investimentos com sabedoria, inclusive geograficamente. Em épocas de depressão econômica os países emergentes, como o Brasil, são os que mais sofrem, por terem uma economia mais frágil. Portanto, sugiro investir em ativos internacionais, seja através de ativos negociados localmente ou diretamente no exterior (EUA), conforme expliquei neste artigo (ver aqui). Vejo muitos digital influencers hoje em dia postando gráficos como esse abaixo incentivando investidores a continuarem investindo em ações nacionais para o longo prazo. Não critico esse movimento por parte deles. Eles apenas se esquecem de informar que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura (quem nunca viu essa recomendação em lâminas de fundos de investimento?), mesmo com o desempenho do índice Bovespa estando dolarizado no gráfico, pois o nosso país está perdendo o bônus demográfico paulatinamente e a nossa produtividade é muito baixa, haja vista o subdesenvolvimento da nossa indústria e a péssima educação oferecida aos nossos jovens. O crescimento médio do PIB brasileiro nos últimos 40 anos foi de parcos 2,5% contando com o bônus demográfico. E sem esse bônus, quanto irá crescer? Sem crescimento econômico as empresas listadas na bolsa terão mais dificuldade para crescer, diminuindo rentabilidade e distribuição de rendimentos. Não estou dizendo que não devemos ser otimistas em relação ao nosso país. Não é isso. Eu apenas estou dizendo que o nosso futuro ainda é muito incerto, sem perspectivas de melhora. Mas pode mudar para melhor, com certeza. Depende somente de nós.


  Talvez o leitor esteja se perguntando onde estou querendo chegar. Estou querendo chegar ao seguinte ponto: no mundo dos investimentos, a única certeza que o investidor tem é a incerteza em relação ao futuro da economia mundial e da economia local. Mas ao diversificar geograficamente, os riscos no mercado acionário diminuem sem necessariamente diminuir a rentabilidade. Muitos investidores optam por investir apenas localmente por considerarem ter uma estratégia melhor. Sem problema. Não existe uma receita padronizada. Essa falta de proteção pode ser compensada por uma alocação em renda fixa maior, por exemplo. Mas para quem já tem um patrimônio relevante o hedge cambial é uma ideia a ser considerada.

Abraços,
Seja Independente


terça-feira, 7 de abril de 2020

Livro Warren Buffett e a análise de balanços, dos autores Mary Buffett e David Clark




Olá pessoal,
                            
  Hoje eu vou falar sobre um livro que li e ainda leio em formato Pdf (não costumo ler livros dessa forma) e conta com detalhes a estratégia que foi e ainda continua sendo usada pelo megainvestidor Warren Buffett (já o citei e falei sobre ele em vários artigos, ver aqui, ver aqui, ver aqui e ver aqui) para investir nas melhores ações e se tornar o investidor mais famoso de todos os tempos. A autora Mary Buffett foi nora dele durante 12 anos e enquanto visitava a casa da família em Omaha observava um pequeno grupo de estudantes que pesquisavam a sabedoria do mestre e que se autodenominavam “buffettologistas” e o de maior sucesso foi o outro autor deste livro, David Clark. Mas no que consiste essa estratégia? O leitor irá perceber que não há muito mistério.
  A estratégia adotada por ele é muito simples. Consiste basicamente em analisar minuciosamente as demonstrações financeiras da empresa e com essa análise tentar descobrir se a empresa possui o que ele chama de “vantagem competitiva durável ou de longo prazo”. Para vocês terem uma ideia do quão importante é para ele e para os autores essa “vantagem competitiva”, o referido termo é citado no livro 199 vezes. Mas do que se trata essa vantagem competitiva? Trata-se de uma vantagem ou vantagens que são suficientes para barrar ameaças de concorrentes no longo prazo através da consolidação de uma marca própria ou de um modelo de negócio difícil de ser replicado. É por isso que Warren Buffett investiu ao longo de décadas na Coca-Cola, Procter&Gamble, American Express, Moody’s, Goldman Sachs e várias outras. O megainvestidor gosta de fazer uma analogia com um castelo medieval que cava um fosso ao seu redor para impedir o ataque de invasores. Esse fosso seria exatamente essa barreira que impede a entrada de concorrentes no setor em que atuam essas empresas, repelindo ameaças de quebra do monopólio ou oligopólio (no caso de mais de uma empresa). No Brasil vimos o caso da administradora de meios de pagamento Cielo perder essa liderança após a entrada de vários concorrentes no setor. Ela ainda é líder do mercado, é verdade. Mas quem sabe analisar o minimamente possível uma demonstração financeira sabe que ela está perdendo mercado a cada ano que passa, e para não perder ainda mais precisa sacrificar as suas margens de lucro, diminuindo o retorno e a distribuição de rendimento para os seus acionistas. O serviço prestado pela Cielo virou uma commodity (ver aqui), e sendo assim, perdeu a sua “vantagem competitiva durável”.


  Ao longo da leitura do livro o leitor irá entender como se deve analisar as demonstrações financeiras para descobrir empresas com vantagem competitiva durável, como se fosse um trabalho de garimpagem numa mina de ouro. E o leitor irá perceber a importância de entender contabilidade para realizar tal atividade. Mas não há necessidade nenhuma de se graduar na universidade e se tornar um profissional da área. Basta fazer um curso, ler livros e o mais importante: ter muita vontade de aprender!           

Abraços,
Seja Independente

domingo, 5 de abril de 2020

Livro Os Axiomas de Zurique, do autor Max Gunther




Olá pessoal,
                            
  Hoje eu vou falar sobre um livro que eu li há um tempo atrás e já deveria ter falado sobre ele aqui no blog. Trata-se do livro Os Axiomas de Zurique, do auto Max Gunther. Este autor foi um jornalista e escritor inglês criado nos EUA cujo pai era um banqueiro suíço que participava de um clube de suíços que operavam em mercadorias e ações em Wall Street. Neste clube foi cunhado o termo que intitula este livro. Na verdade estes axiomas não são os conselhos sobre investimentos que a maioria dos assessores costuma oferecer. São mais voltados para especuladores. Mas conta muito para a boa formação do mindset do investidor de longo prazo. Vale a pena ler.             
  Logo no início da introdução, o autor afirma que a Suíça é um lugar totalmente inóspito, paupérrimo em recursos minerais, sem litoral e que há 300 anos se mantém fora das guerras europeias por não ter aparecido nenhum invasor que realmente a quisesse. Mas apesar de tudo isso os suíços estão entre as pessoas mais ricas do mundo. Em renda per capita comparam-se aos norte-americanos, alemães e japoneses. Sua moeda é das mais fortes do mundo. E conseguiram isso concluindo que a maneira sensata de levar a vida não é fugindo dos riscos, mas expondo-se deliberadamente a eles. Para isso adotaram uma filosofia que consiste de 12 regras para se assumirem riscos, os chamados “Axiomas de Zurique”. Esses axiomas abrangem todas as modalidades de investimento, desde o mercado financeiro até obras de arte. Prefiro não comentar sobre cada um dos axiomas para que o artigo não fique muito extenso. É melhor que o investidor leia o livro e entenda o real significado de cada uma delas. É um livro sobre investimentos com uma proposta diferente das demais, assim como o livro Pai Rico Pai Pobre do autor Robert Kiyosaki, mesmo não se assemelhando nenhum pouco a este. Por ser um livro abrangente que vale para todos os tipos de investimento, ele vale para muitos tipos de investidores de diferentes lugares do mundo. Ao longo do livro o investidor perceberá que os mesmo insights transmitidos nos outros livros estão presentes nele também, mas de uma forma bem diferente, com exemplos práticos envolvendo diferentes investimentos em diferentes lugares e épocas.
  Enfim, é um livro que prega uma filosofia de investimento peculiar de pessoas que, por necessidade, foram obrigadas a cria-la e a transmiti-la de geração em geração. E assim uma cultura nacional foi forjada e disseminada entre os seus compatriotas, contribuindo para toda uma cadeia de prosperidade e riqueza naquele país. O nosso país, diga-se de passagem, tem de sobra o que não tem lá. Mas não tem o principal que é a cultura. Obviamente que não dá para comparar muito os dois países por se tratarem de processos históricos totalmente distintos. Mas, no atual mundo globalizado onde nós vivemos, podemos chegar a uma conclusão nada animadora: já deveríamos ter aprendido um pouco com os suíços há muito tempo atrás.      

Abraços,
Seja Independente

sábado, 4 de abril de 2020

Não invista toda a sua reserva na caderneta de poupança!


  Olá pessoal,
                            
  Hoje eu vou falar sobre um produto de investimento muito utilizado por nós brasileiros, principalmente por aqueles que não investem e não possuem uma educação financeira. Trata-se da tão famigerada caderneta de poupança. É surreal a quantidade de dinheiro aplicada na caderneta de poupança no nosso país (veja aqui). Essa é uma prova incontestável da falta de educação financeira do brasileiro. Não deveríamos ter tanto dinheiro aplicado num produto que rende abaixo da inflação. Vou explicar que apesar disso podemos ter dinheiro aplicado nesse produto para a nossa reserva de curtíssimo prazo (15 a 30 dias). 

           
   Em alguns artigos publicados neste blog eu comentei que a caderneta de poupança poderia ser utilizada para a reserva de emergência, mas nunca entrei em maiores detalhes. Pois bem, neste artigo eu irei explicar que a poupança pode ser utilizada para aquela reserva de curtíssimo prazo, podendo variar entre 15 a 30 dias. A grande vantagem da caderneta de poupança é a sua liquidez imediata, podendo ser sacada a qualquer momento. Então ela será muito indicada para aqueles casos que requer urgência como imprevistos com filhos, moradia, veículo, viagens etc. Também será muito indicada para aproveitar aquelas oportunidades de investimento que não podem esperar muito tempo. Mas para aqueles imprevistos que são mais difíceis de acontecer ou para aquelas oportunidades de investimento que são raríssimas, não recomendo investir nela. Há até quem critique o uso desse termo “investir” para quem aplica na caderneta de poupança pelo fato de render abaixo da inflação. Preferem o termo poupar. Mas conforme expliquei neste artigo da semana passada (veja aqui), tecnicamente falando você também investe quando aplica o seu dinheiro em algo que vai te render juros no final do período, por mais que esses juros sejam ínfimos ou insuficientes para compensar a inflação do período. O problema é que a poupança atualmente rende muito pouco, bem abaixo da inflação. Não chega a ser a mesma coisa de deixar o dinheiro parado na conta corrente, é verdade. Mas rende muito pouco e os brasileiros precisam saber disso. A caderneta de poupança foi criada em 1861 pelo Imperador Dom Pedro II e desde então estava rendendo 6% ao ano. Mas em 2012 foi decretado pelo governo que a poupança seria atrelada a taxa Selic da seguinte forma: se a taxa Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento será 0,5% ao mês + TR (taxa referencial); se a taxa Selic estiver igual ou abaixo de 8,5%, o rendimento será 70% da Selic + TR (ver aqui). Com a Selic no patamar atual de 3,75%, a poupança rende 70% dessa taxa, ou seja, 2,62% + TR (que está rendendo 0% atualmente). Para vocês terem uma ideia de quão baixa esta a rentabilidade da poupança, até o FGTS (pasmem) que rende 3% ao ano está rendendo mais do que a poupança (ver aqui).   




  Mas apesar dessa grande desvantagem da poupança, ela ainda pode ser aproveitada. Sugiro ao investidor aplicar 10 a 20% do total de reservas na caderneta de poupança, dependendo de cada caso. Muitos utilizam a conta poupança para aplicar automaticamente os seus rendimentos. É uma boa alternativa. Mas o que exceder deve ser aplicado no título tesouro Selic ou num fundo de renda fixa simples com taxa de administração próxima de 0%. É importante que o investidor diversifique as suas reservas, pois dependendo da situação aquele investimento A ou B pode não ter liquidez suficiente para atender todos os resgates solicitados em um determinado período, como no caso de corridas bancárias. Há quem prefira guardar dinheiro debaixo do colchão ou num cofre em casos de extrema necessidade. Pode até ser uma opção válida, mas o investidor deve analisar alguns fatores antes de tomar uma decisão desse tipo, como o risco de ser roubado e o risco do dinheiro perder valor subitamente. Portanto, cabe ao investidor determinar um valor que seja razoável para guardar em casa arcando com todas as consequências decorrentes dessa decisão.
  Enfim, espero que nessa crise pela qual estejamos passando os meus compatriotas brasileiros tomem consciência da necessidade de investir sabiamente o dinheiro ganho com suor e lágrimas, procurando constituir reservas e estudando alternativas de renda variável. Vamos parar com hábitos corriqueiros como aplicar toda a reserva na poupança, financiar imóveis físicos e gastar grandes somas de dinheiro com joias banhadas a ouro. Esta última pode até ser válida pelo fato do ouro tratar-se de uma reserva de valor, mas deve ser feita com cautela, sem comprometer a renda, a reserva e a carteira. A sociedade brasileira precisará aprender a gerenciar a sua renda e o seu patrimônio após essa crise, cujo período não sabemos quando irá findar.    

Abraços,
Seja Independente