quarta-feira, 25 de julho de 2018

Os Setores da Economia










Olá Pessoal,

  Neste artigo vou falar sobre um assunto específico da renda variável, os setores da economia. Primeiramente, é importante salientar que uma das finalidades da renda variável é garantir uma renda passiva para o investidor através do pagamento de proventos, além de garantir uma rentabilidade real acima da inflação, preservando o poder de compra do investidor ao longo do tempo. O investidor inteligente reconhece que o pagamento regular de proventos e o seu reinvestimento acelera exponencialmente o efeito dos juros compostos na rentabilidade real acumulada da carteira. Portanto, antes do investidor analisar os setores da economia e as empresas, ele deve considerar esse detalhe como pressuposto básico.
   Diante desse pressuposto, o investidor deve adotar como critério principal na análise o nível de blindagem de cada setor, ou seja, selecionar as empresas daqueles setores blindados contra crises econômicas, cujos fundamentos não se alteram de forma substancial, como lucratividade, margem operacional, geração de caixa, nível de endividamento e distribuição de dividendos. Geralmente são setores que tem uma demanda inelástica, como por exemplo, o setor financeiro, o setor elétrico, o setor de saúde, o setor de educação, entre outros. Sabemos que, mesmo num ciclo econômico de baixa, o consumidor não encerrará a sua conta bancária e deixará de consumir os produtos bancários, não deixará de pagar a conta de energia, não deixará de pagar o plano de saúde da família, e também não deixará de pagar a mensalidade escolar dos filhos. Entretanto, o consumidor passará a eliminar da sua cesta de bens e serviços aqueles tidos como “supérfluos” ou aqueles que podem ser substituídos por outros similares mais baratos.
   Iniciarei a minha abordagem selecionando aqueles setores que costumo excluir da minha carteira previdenciária por não atenderem o critério da blindagem e outros critérios. O primeiro setor a ser excluído é o setor imobiliário, até pelo fato de ser um setor que eu conheço bem. Sou graduado em Ciências Contábeis, mas nunca cheguei a exercer a profissão de fato, pois desde que me formei atuo como gerente administrativo de uma construtora. É um setor que necessita de um capital de giro muito elevado, costumam ser alavancadas e dependem de um mercado aquecido com juros baixos, para que o consumidor possa contrair um financiamento bancário ou direto com a incorporadora. Além de tudo isso, ainda contam com uma mão-de-obra desqualificada (pelo menos no Nordeste, não sei em outros regiões do Brasil e em outros países, e antes que alguém venha me criticar peço para que deixe o politicamente correto de lado se quiserem ler meus artigos), que dispensa maiores comentários. Há quem argumente o fato de existirem algumas empresas do setor com boa governança corporativa e bom dividend yeld que valem a pena investir, como Ezetec e MRV. Bem, fiquem à vontade. Se o caro colega investidor analisou os fundamentos de ambas e gostou, tudo bem, mas eu prefiro não arriscar. E ainda me esqueci de mencionar o projeto de Lei dos Distratos que está tramitando no Congresso com bastante dificuldade, cuja finalidade é dar um pouco mais de segurança jurídica para os contratos e tem papel relevante para o futuro do mercado imobiliário. O segundo setor a ser excluído é o setor de consumo cíclico em geral, como alimentos, supermercados, lojas de todos os tipos, indústrias de todos os tipos, companhias aéreas, entre outras. Numa recessão, como a que houve recentemente, o consumo das famílias e o crédito caem drasticamente, impactando fortemente o resultado dessas empresas. Nós sabemos que o Brasil é um país instável historicamente, com governos invariavelmente intervencionistas na economia, acarretando recessões ao longo do tempo. Dessa forma, fica muito difícil para essas empresas manter um bom nível de lucratividade, boas margens operacionais, uma boa geração de caixa e um nível de endividamento saudável. Sem bons fundamentos, não haverá lucros futuros e consequentemente não haverá dividendos a serem distribuídos, impactando fortemente os resultados no longo prazo. Mas vale a pena aqui fazer uma ressalva em relação à Ambev, uma empresa do setor de consumo de bebidas, que por ter se tornado uma multinacional e ter se consolidado como líder no mercado nacional pelo fato de possuir marcas que caíram no gosto do brasileiro, ela se tornou uma exceção. É uma empresa com bons fundamentos e que tem gerado valor para os seus acionistas, apesar de atualmente enfrentar forte concorrência da Heineken.  O terceiro setor a ser excluído é o setor de exportação em geral, incluindo commodities, papel e celulose, siderurgia, entre outros. É um setor complexo, que envolve diversas variáveis e por isso costuma ter uma rentabilidade muito volátil. O faturamento delas está atrelado ao câmbio, principalmente ao dólar. Sabemos que a geopolítica global interfere diretamente na variação cambial. Além disso, a política comercial dos países importadores interfere fortemente no resultado dessas empresas. Sem contar os diversos problemas de conjuntura doméstica. Por isso, fica muito difícil analisar empresas desse setor, mesmo que tenham uma boa governança corporativa, pois a análise dos indicadores é de suma importância e mesmo o melhor analista profissional terá dificuldade para tal, tamanha a complexidade. O quarto setor a ser excluído é o setor de telefonia, mas eu excluo mais por uma questão de preferência pessoal. O critério que eu utilizo aqui é o de governança, pois essas empresas costumam ser mal administradas (pelo menos é o que eu vejo nos relatórios de análise), e particularmente como consumidor nunca gostei da prestação de serviço dessas empresas, sempre achei um lixo. Vejam por exemplo o caso da Oi, que antigamente pagava dividendos gordos todo ano e depois perdeu a capacidade de pagamento. É bem verdade que as empresas desse setor costumam ter um bom dividend yeld, mas esse indicador não deve ser analisado isoladamente, mas sim em conjunto com os outros indicadores, vide o caso da Oi.
  Após esse “filtro” dos setores, podemos escolher com mais clareza as empresas que irão compor a nossa carteira previdenciária. Primeiramente, é importante salientar que os setores de saúde e educação, apesar de possuírem a natureza de consumo (prestação de serviços), não fazem parte do setor de consumo cíclico, pelo menos na minha visão, pelo fato de serem setores blindados contra crise, pois como havia falado anteriormente, nenhum consumidor deixará de pagar o plano de saúde familiar e nem a mensalidade escolar dos filhos. E aqui vale destacar o futuro promissor desses dois setores no país. Sabemos que a demografia brasileira está mudando ao longo do tempo, com a população idosa aumentando de tamanho, gerando uma demanda crescente por serviços de saúde. Além disso, uma evolução tecnológica dos procedimentos na área irá permitir um barateamento maior dos serviços, inclusive dos estabelecimentos privados. Com isso, haverá uma demanda maior por parte das classes de renda baixa, aumentando o faturamento do setor em escala. Em relação ao setor educacional, sabemos que ficou claro e evidente, após a recessão, a necessidade da mão-de-obra brasileira se especializar cada vez mais, tanto no ensino técnico como no superior, para que possamos desenvolver urgentemente a nossa infraestrutura e a nossa indústria, pilares essenciais para o crescimento duradouro do nosso PIB. Acredito que com as reformas tributária e previdenciária, aliadas a uma política de fortalecimento do setor privado, empreendedores nacionais e investidores estrangeiros irão se sentir mais estimulados em investir nesses setores. Já o setor financeiro brasileiro é um setor que dispensa maiores comentários. Sabemos que o nosso setor bancário é o mais lucrativo do mundo, gerando lucros bilionários ano após ano, mesmo em períodos de crise. As seguradoras não são tão rentáveis quanto os bancos, pois é um setor ainda em crescimento, mas que tem muita margem para crescer, ainda mais levando em consideração a demografia e o iminente colapso da Previdência Social, aumentando a procura por planos de previdência privada e seguro de vida. Vale mencionar aqui também a empresa B3, que é a nossa bolsa de valores, que se fundiu recentemente com a Cetip. É uma empresa com ótimos prognósticos, pois tende a crescer bastante na medida em que a economia do país for se desenvolvendo. Todo e qualquer país desenvolvido tem uma bolsa de valores forte, com a entrada crescente de empresas que desejam abrir o seu capital ao público investidor em geral. Temos também o setor elétrico, que se destaca pela sua forte “blindagem” contra crise, pois a energia elétrica é um produto com demanda totalmente inelástica, pois nenhum consumidor deixará de pagar a conta de energia em momentos de crise, a não ser em casos extremos onde o consumidor, por estar altamente endividado, perde a capacidade de pagamento. Mesmo nesses casos raros, é algo que costuma ser temporário. Nesse setor, destaco a Taesa, que é uma transmissora de energia elétrica. Ela recebe pela disponibilidade de linhas transmissoras e não apenas pela quantidade de energia que é transmitida. É uma das empresas mais blindadas do setor, se não for a mais, e costuma ter um dividend yeld altíssimo. Também temos as geradoras, com seus portfólios de hidrelétricas, termelétricas, eólicas, entre outras fontes. Possuem contratos de concessão com prazos extensos, gerando valor para os seus acionistas por décadas. Antes que eu me esqueça, também gostaria de tecer breves comentários sobre os fundos imobiliários. Em minha opinião (quem quiser pode discordar de mim), existem poucas opções de fundos imobiliários interessantes na bolsa de valores. Muitos fundos possuem apenas um único imóvel, como fundos de shopping centers, universidades, hospitais, entre outros. Acho isso muito arriscado, pois todo o risco está concentrado em um único locatário ou poucos locatários e em uma única região. Dou preferência na minha carteira a fundos de lajes corporativas que se concentram em São Paulo (será a principal capital da América Latina na próxima década) e outros estados das regiões sul e sudeste, que tenham muita liquidez em relação aos demais e que tenham gestores e administradores competentes reconhecidos pelo mercado (Intrag, Rio Bravo, BTG Pactual, entre outros).
   Enfim, existem muitas oportunidades na bolsa que tendem a gerar muito valor para o investidor no longo prazo. Lembrando que essa lista de setores é exemplificativa, não é exaustiva, existem outros setores resilientes que tendem a distribuir bons dividendos regularmente e possuem bons fundamentos. Apenas preferi comentar sobre aqueles setores blindados que eu considero mais tradicionais. Também quero lembrar ao colega investidor que não pretendo aqui neste artigo fazer recomendações de investimento, pois todos sabem que se trata de um blog amador. Espero ter contribuído mais uma vez para a comunidade de investidores com este artigo.


Abraços,
Seja Independente

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A Importância da Reserva de Emergência


Olá pessoal,

  Neste artigo vou falar sobre mais um tema que eu considero de suma importância para a formação do investidor, a constituição de uma reserva de emergência. Considero a reserva de emergência um dos principais pilares na formatação de uma carteira previdenciária, pois sem ela a carteira do investidor poderá ficar seriamente ameaçada pelos diversos infortúnios que acometem a nossa vida.




  Primeiramente, devemos refletir a respeito do montante necessário para constituir a nossa reserva de emergência. Isso depende de uma série de fatores e acredito que não exista um consenso para definir um valor ideal para a maioria das pessoas, pois é algo muito subjetivo. No meu ponto de vista, os principais fatores são o tipo de ocupação e a quantidade de dependentes. Vamos analisar cada um desses fatores.
  O tipo de ocupação é muito importante no início da constituição da reserva, pois é esse fator que irá dimensionar o período que será coberto pela reserva. Se um indivíduo é funcionário público, com certeza ele tem muita estabilidade no seu emprego, a não ser que o mesmo cometa uma infração grave, o que não é muito comum. Como o salário mensal é “garantido” ao funcionário e quase não há risco de demissão (no máximo transferido para outra região do país ou cedido para outro órgão público), a segurança financeira desse indivíduo aumenta consideravelmente. Há quem questione o fato de atualmente em alguns estados brasileiros os funcionários estarem recebendo salário com atraso ou de forma parcelada. Isso é verdade, eu não nego. Mas acredito que seja algo temporário e, além disso, não vemos a mesma coisa acontecer com os funcionários públicos federais, mas sim recebendo o salário em dia e tendo reajustes todo santo ano. Mas não vamos entrar em maiores detalhes, pois é um assunto político e não é nossa intenção no momento entrar nessa seara. Pois bem, diante desse cenário, se um funcionário público não tem dependentes e mora ainda com os pais, sua reserva de emergência é mínima, talvez 2 meses no máximo caso ele continue almejando outros cargos e em outras regiões do país. Se ele já é dono do próprio nariz e têm dependentes, mesmo que o cônjuge também tenha renda, é interessante que o período coberto aumente para 4 meses, pois uma família têm muitas despesas imprevistas com dependentes, moradia e transporte. Se um indivíduo é autônomo, como os profissionais liberais e os microempreendedores individuais (MEI), ele já não tem tanta segurança financeira, pois dependerá exclusivamente da sua carteira de clientes, por mais fiéis que esses clientes sejam. Um ciclo econômico de baixa pode afetar a carteira substancialmente, principalmente se for uma carteira formada por aqueles que foram mais afetados pela crise, como empregados de empresas privadas e funcionários públicos estaduais e municipais de alguns estados. Também devemos atentar para o ramo de atividade do autônomo, pois existem profissionais autônomos que estão em contato direto com os seus clientes, como os da área da saúde (médicos, dentistas e fisioterapeutas). Sendo assim, caso eles fiquem doentes ou sofram acidente, eles ficarão incapacitados de prestar serviços para os seus clientes e, consequentemente, sem poderem auferir renda. Portanto, esse grupo deverá constituir uma reserva maior, algo em torno de 6 meses. Para os demais sugiro uma reserva de 4 meses. Lembrando que caso possuam dependentes, eles deverão aumentar 2 meses de cobertura para imprevistos. Já se um indivíduo é empresário, além de não ter nenhuma segurança financeira, ele corre sérios riscos de falir caso o seu negócio não vingue, por mais resiliente que seja. Todos nós investidores sabemos o quão é arriscado investir em um negócio próprio no Brasil, não preciso entrar em maiores detalhes. Aqueles que conseguem sucesso têm um espírito empreendedor, um ótimo produto e uma pitada de sorte, mas sabemos que não é a regra geral. Portanto, para esses eu sugiro um período de cobertura um pouco mais elástico, no mínimo 10 meses. Se o ramo de negócio for muito cíclico, como construção civil, sugiro esticar para 12 meses. Em relação aos profissionais que tem aquela carteira “azulzinha”, eu prefiro coloca-los no mesmo barco dos empresários, pois mesmo que eles tenham uma série de benefícios sociais, além da mãe JT (acredito que todos saibam o significado rsrs), a segurança financeira desse pessoal é ilusória. Por mais capacitados que sejam para a função que irão exercer nas empresas, eles sempre irão depender dos ciclos econômicos, ou seja, nunca haverá estabilidade no emprego deles. Estamos vendo agora no nosso país o nível recorde de desemprego, fruto da maior recessão da nossa história. Portanto, para esse pessoal eu sugiro o mesmo período de cobertura.



  A quantidade de dependentes também influenciará na constituição da reserva posteriormente, na medida em que o investidor for auferindo renda e formando patrimônio. Quanto maior for a quantidade de filhos, maior deverá ser a reserva. Se algum filho for deficiente físico que necessite de tratamento médico especial, maior ainda deverá ser a reserva. Se o investidor, além dos filhos, tiver que cuidar dos pais idosos de forma integral ou parcial, deverá aumentar essa reserva. Há quem questione o fato de alguns indivíduos, no caso dos que tem imposto de renda retido na fonte no contracheque, poderem deduzir na declaração anual do IRPF despesas com saúde e educação, e assim refutar a tese de que é necessário constituir uma reserva de emergência de tantos meses. Mas lembrem-se de que apenas os gastos com saúde são integralmente dedutíveis e ainda assim nem todos os gastos dentro do universo de gastos com saúde podem ser deduzidos, como remédios (alguns são bem caros) e alimentos específicos para dietas restritivas (uma lata de leite NAM é caríssima e é consumido em grande quantidade no mês rsrs), portanto é necessária sim a constituição de uma boa reserva de emergência, independente de conseguir deduzir uma boa parcela dos gastos com saúde na declaração anual.
  Em relação aos investimentos ideais para a constituição da reserva, devemos adotar como critério a liquidez, pois aquele valor deverá estar disponível imediatamente assim que surgir alguma despesa imprevista que tenha extrapolado o orçamento familiar. Existem diversas opções com bastante liquidez para constituir reserva, como o saldo em conta corrente, poupança, fundos de investimento em renda fixa, letras de crédito imobiliário com resgate, título público atrelado à Selic e até mesmo dinheiro em espécie guardado dentro de casa (mas não aconselho a fazer isso rsrs). Portanto, nunca invista sua reserva de emergência em opções com baixa liquidez, como ações e fundos imobiliários, pois esses não cumprem a função de reserva, mas sim de formação de patrimônio.





  Acredito que esse é o detalhe mais ignorado pelos investidores no início, mas que faz toda a diferença no longo prazo para o investidor. O conceito de “investir na margem” tem muita a ver com a constituição da reserva de emergência, pois é ela quem vai servir de amortecedor de risco para as carteiras previdenciárias. Caso a reserva seja insuficiente ao longo da formatação da carteira, o investidor pode se deparar com a necessidade de se desfazer parcialmente dos ativos que compõe a sua carteira ou contrair empréstimos bancários, desacelerando a formação do patrimônio do investidor. Portanto, sugiro constituir uma boa reserva de emergência antes de iniciar a formatação da carteira previdenciária. Não deixe que a ganância controle as suas emoções na hora de investir, tenha paciência e humildade para aprender cada vez mais. Apenas dessa forma conseguiremos atingir a nossa independência financeira.
  Espero ter contribuído mais uma vez para a comunidade de investidores e desejo que todos tenham sucesso!

Abraços,
Seja Independente
 
 

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Renda Fixa e a Inflação


Olá pessoal,



  Neste artigo vou falar sobre um tema que eu considero de suma importância para a formação de qualquer investidor, a renda fixa e a sua correlação com a inflação. Considero esse tema de suma importância pelo fato de influenciar diretamente na alocação dos ativos que compõem uma carteira.
  Na minha opinião pessoal, após o estudo aprofundado desse tema é que o investidor decidirá qual é o seu verdadeiro perfil, se será conservador ou arrojado. Digo isso porque acredito que a meta principal de todo e qualquer investidor é formatar uma carteira de investimentos que consiga obter uma rentabilidade real acima da inflação no longo prazo (carteira previdenciária, como diz Luiz Barsi Filho). Em outras palavras, é o tema que definirá se o investidor deseja: 1) encarar os seus investimentos como uma fonte de renda passiva que irá sustentá-lo após a sua renda ativa fruto do seu trabalho não mais conseguir prover as suas necessidades, seja pelo fato do investidor não mais desejar trabalhar ou pelo fato do mesmo não ter mais condições físicas e mentais para o labor; ou 2) encarar os seus investimentos como um complemento para a sua aposentadoria, como uma fonte de renda secundária que tem a função de proporcionar segurança para o indivíduo caso a sua principal fonte de renda tenha problemas.
   A renda fixa, como todos nós sabemos, se trata basicamente de um empréstimo que o investidor concede a um governo ou a uma instituição financeira por um prazo determinado e atrelada a um índice de preço. E com a variação do índice é que temos a taxa de inflação. Para calcular o índice de preço, é necessário escolher o público-alvo, a cesta de bens e serviços típicos deste público-alvo, a fórmula de cálculo, a periodicidade da coleta de dados e a revisão da amostra. O indicador de inflação oficial do Brasil, como bem sabemos, é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ele é calculado pelo IBGE e agrega famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. Existem outros índices de preço no Brasil, como o IGP-M e o INCC, mas vamos nos ater ao IPCA, que por ser o indicador oficial é o IP mais utilizado na indexação dos instrumentos de renda fixa. Por exemplo, os títulos públicos pós-fixados ofertados pelo Tesouro Direto são atrelados ao IPCA assim como alguns CDB de bancos e debêntures de empresas privadas. Existem também os títulos públicos prefixados, mas ainda assim o IPCA é considerado no cálculo da taxa prefixada desses títulos. O IPCA ainda serve de parâmetro para a definição da taxa Selic determinada pelo Banco Central. A taxa Selic, por sua vez, determinará a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que é a taxa de juros praticada pelos bancos nas operações financeiras. Resumindo, o IPCA é o índice que praticamente “precifica” toda a economia do país.




   Pois bem, tomando por base o IPCA, podemos nos aprofundar no estudo da renda fixa sob uma ótica mais analítica. O IPCA, por ser baseado numa amostra de dados coletados em um determinado período, representa uma média, correto? A média de preços dos bens e serviços típicos de um público-alvo de uma determinada região. Portanto, podemos concluir que cada cidadão brasileiro, trabalhador e pai de família, tem o seu “próprio IPCA”, ou seja, naquele determinado período ele consumiu determinados bens e serviços, uns em maior quantidade e outros em menor quantidade. Até aí tudo certo ok? Mas aí você me pergunta o que isso tem a ver com os seus investimentos e eu te respondo: isso tem TUDO a ver com os seus investimentos. Vamos exemplificar um pouco para facilitar o nosso entendimento: Uma casal de classe média baixa, ambos funcionários públicos do Estado ondem residem, tem três filhos pequenos e moram em um apartamento alugado. O casal também investe por conta própria e tem uma conta conjunta numa corretora. A carteira de investimentos de longo prazo do casal é composta por 90% de renda fixa (basicamente títulos públicos atrelados ao IPCA) e 10% de renda variável (ações e fundos imobiliários), pois são muito conservadores. O casal sabe que o maior investimento que podem fazer pelos filhos é dar-lhes uma boa educação. Portanto, decidem investir pesadamente na educação dos três filhos até a pós-graduação de cada um. Eles também arcam mensalmente com plano de saúde da família, com o aluguel do apartamento e com as despesas de um veículo financiado. Ao longo de 30 anos, devido a sucessivas crises financeiras pela qual o país passou (baseando-se no fato que o Brasil é um país historicamente instável), o casal de funcionários públicos não tiveram os reajustes necessários para repor as perdas inflacionárias do período. Além disso, nesse período de 30 anos a inflação dos serviços educacionais aumentou muito acima do IPCA acumulado do período e a inflação dos serviços de saúde, por sua vez, aumentou um pouco acima. Os outros bens e serviços se mantiveram estáveis, em linha com o IPCA acumulado do período. Por mais organizado que o casal tenha sido com o orçamento familiar no período, dificilmente eles conseguiram evitar a contratação de empréstimos bancários para poder manter os filhos na escola e arcar com o plano de saúde e outras despesas, caso a reserva de emergência tenha sido insuficiente (e sabemos que na maioria dos casos é insuficiente mesmo).





  Diante do exemplo apresentado, podemos concluir que a carteira de investimentos do casal provavelmente não conseguiu atingir o seu objetivo, que é render em termos reais bem acima da inflação, pois a maior parte da carteira esteve atrelada ao IPCA do período. Na melhor das hipóteses a carteira empatou com o IPCA, ou seja, rendeu entre 0,5% e 1% acima da inflação. Há quem questione essa minha teoria pelo fato do casal ter direito a receber uma aposentadoria vitalícia do Estado, após anos contribuindo para o RPPS (Regime Próprio Previdenciário). Acredito que seja do conhecimento da maioria dos investidores que a Previdência Social, em especial a previdência do funcionalismo público, é uma verdadeira bomba-relógio. Acredito que seja do conhecimento de todos também que a reforma da previdência é uma medida bastante impopular (e o motivo nós já sabemos), e por isso os governos futuros terão bastante dificuldade para aprovar as “minirreformas da previdência” no Congresso Nacional. Além disso, o casal sofrerá um aumento estrondoso dos bens e serviços de saúde, como os planos de saúde e os remédios. Aliás, por falar em planos de saúde, particularmente acredito que sofrerão uma mudança drástica nos seus serviços de cobertura, deixando de cobrir serviços básicos como consultas e exames, restando apenas os serviços de alta complexidade, como cirurgias e internações hospitalares. Existe até a possibilidade de haver uma diminuição dos custos dos planos e das consultas e exames nas redes particulares de saúde, caso haja uma regulação pela ANS (Agência Nacional de Saúde). Mas enfim, não sabemos o que irá acontecer. Mas voltando ao centro da questão, há ainda quem questione essa minha teoria pelo fato de que existe a possibilidade do pai de família aumentar exponencialmente a sua renda ao longo da sua vida laboral, seja sendo um empregado bem remunerado na iniciativa privada, um autônomo que se recicla frequentemente, ou um empresário bem-sucedido. Mas vale lembrar que essa não é a regra. Muitas pessoas ficarão desempregadas por alguns períodos por mais capacitadas que sejam, muitos autônomos perderão clientes para outros concorrentes mais reciclados, e muitas empresas irão falir por mais que os seus proprietários sejam resilientes. Portanto, o cidadão médio que decidir se tornar um investidor terá que se arriscar um pouco mais na renda variável para ter uma rentabilidade bem acima da inflação acumulada do período, de forma garantida.




  Mas eu gostaria de lembrar ao colega investidor que não estou tentando convencê-lo a excluir totalmente a renda fixa da sua carteira de investimentos. Pelo contrário, a renda fixa deve constar obrigatoriamente na sua carteira, servindo como amortecedor do risco sistêmico que está presente em toda e qualquer carteira de investimentos. Em relação ao percentual ideal da carteira alocado em renda fixa, isso varia muito com o perfil do investidor. Além do perfil, acredito que varia muito também com outros fatores pessoais do investidor, como o tipo de ocupação (empregado de empresa privada, funcionário público, autônomo e empresário), a idade, a quantidade de dependentes, entre outros.
   Para finalizar, vale lembrar aquela famosa expressão proferida pelo megainvestidor brasileiro Luiz Barsi Filho: “Costumo chamar a renda fixa de perda fixa”. Ao proferir essa expressão, Luiz Barsi não teve a intenção de induzir o investidor leigo e iniciante a excluir a renda fixa integralmente da sua carteira, mas sim de aconselhar o investidor a não alocar a maior parte de sua carteira previdenciária em renda fixa, pelos motivos já expostos neste artigo. No meu humilde ponto de vista, o investidor mais conservador que encare os investimentos como uma futura renda secundária terá muito sucesso na sua empreitada alocando metade em renda fixa e metade em renda variável, pois assim ele terá grandes chances de obter um retorno real um pouco acima da inflação. Já para aquele investidor mais agressivo, que gosta de estudar as empresas listadas na bolsa, tem boas noções de contabilidade e economia, e sabe administrar os riscos (tem estômago), sugiro alocar a maior parte em renda variável, sempre diversificando ao máximo os ativos na medida em que o seu conhecimento ainda é pequeno. Por favor, não queira se comparar a Luiz Barsi Filho e muito menos a Warren Buffett, pois somos meros investidores mortais em relação a esses titãs. A humildade e a paciência são as qualidades mais importantes do investidor.
   Espero ter contribuído para a comunidade de investidores com esse artigo. Tenho consciência absoluta da minha pequenez como investidor, mas espero que esse blog ajude sempre cada vez mais os investidores iniciantes e também espero aprender muito com os outros investidores mais experientes que já tem blog de investimentos há muito mais tempo do que eu.

   Abraços,
   Seja Independente

domingo, 8 de julho de 2018

Meu Início Como Investidor e os Produtos Bancários


Olá pessoal,



   Acredito que meu início como investidor tenha sido similar ao início da grande maioria dos brasileiros que decidem se tornar investidores assim como eu: investindo através dos produtos bancários.
   Após ler o livro de um autor best-seller sobre investimentos (não vou citar o nome), decidi investir através dos produtos bancários oferecidos pelos bancos onde possuo conta. Assim que fui recebendo o meu salário mensal e as gratificações anuais, fui aportando nos bancos. Primeiro, decidi aportar a minha primeira gratificação anual numa previdência privada (PGBL). Achava que seria interessante para o meu futuro, já que eu receberia um salário vitalício após o término do prazo de contribuição (30 anos) e os meus herdeiros se tornariam beneficiários do plano automaticamente sem a necessidade de passar por inventário, após a minha morte. Mas eu cometi o grave erro de não consultar previamente as taxas de administração e a taxa de carregamento (que são altas). Também cometi o grave erro de não consultar o histórico de rentabilidade líquida dos planos. Fiz as contas após 3  anos contribuindo para o plano e descobri que a rentabilidade líquida acumulada antes do imposto foi de 90% do CDI, ou seja, uma rentabilidade pífia, considerando que no período analisado a taxa Selic foi de 1% ao mês em média. Para completar o desastre, escolhi a opção pela tributação regressiva, ou seja, quanto mais tempo me mantivesse fiel ao plano, menor seria a alíquota do imposto, podendo chegar a 10% após o prazo de 10 anos, mas caso eu optasse por resgatar em prazos curtos de 2 a 6 anos, o leão me daria uma enorme mordida, podendo chegar a 35%. Resumindo, escolhi o pior produto bancário (e o mais vendido pelos bancos, diga-se de passagem) de todas as opções disponíveis. Aconselho a investir nesse produto bancário apenas os funcionários públicos do alto escalão do governo e os executivos seniores das grandes multinacionais que sofrem pesada tributação na fonte, e ainda assim pesquisando de forma altamente criteriosa em todos os bancos e seguradoras.
  Após me educar financeiramente lendo livros, artigos de blogs na internet, assistindo palestras no youtube, consegui perceber os erros que havia cometido e comecei a tomar providências para aumentar o meu patrimônio e impedir que ele fosse corroído cada vez mais pelas taxas exorbitantes dos produtos bancários. Abri uma conta numa corretora de baixo custo e comecei a aportar periodicamente parte do meu salário e posteriormente parte do meu PGBL. Hoje tenho uma carteira formatada para a minha independência financeira, sendo a maior parte alocada em renda variável (90%) e a menor parte em tesouro direto (10%). Antes de abrir a conta na corretora, eu cheguei a investir em ações e no tesouro direto nas corretoras dos bancos onde eu possuo conta, por uma questão de comodidade. Mas logo depois eu descobri que os custos envolvidos são bem maiores que os custos de uma corretora independente. Então eu fui conversar com os gerentes das minhas contas e solicitei a portabilidade assim que eu abri a conta na corretora. Foi um pouco burocrático, mas eu consegui. Após resolver essa pendência e iniciar as compras na corretora, também me cadastrei no Canal Eletrônico do Investidor (CEI), para que eu possa consultar mensalmente os meus extratos de investimento e os proventos creditados. O único produto bancário que mantive ativo foi uma LCI (letra de crédito imobiliário) a 86% do CDI com resgate após um prazo de carência de 24 meses, com a finalidade de formar uma reserva de emergência robusta que me cubra por um prazo de 12 meses.
  Quero deixar bem claro aqui que não pretendo convencer os outros investidores a resgatarem todos os produtos bancários que possuem ou não investirem em produtos bancários em hipótese alguma. É óbvio que o investidor pode investir em um produto bancário, como é o meu caso. Apenas quero alertar o colega investidor de que existem vários produtos bancários, como fundos de investimento de renda fixa cobrando taxas de administração na casa dos 3%, fundos de investimentos em ações cobrando taxas de administração na casa dos 5% + taxa de performance (20% do que exceder o índice Bovespa é o mais comum), CDB rendendo 70% do CDI antes do imposto, cuja rentabilidade mal cobre a inflação do período, sendo que o investidor pode investir por conta própria através de corretoras de baixo custo, auferindo uma rentabilidade infinitamente superior no longo prazo.
   Bem, esse foi o meu início como investidor e espero que ajude os outros colegas investidores que estejam iniciando a formatação de suas carteiras de investimento. Esse é o meu primeiro artigo no blog e espero ter contribuído para a comunidade de investidores!

Abraços,
Seja Independente