domingo, 26 de abril de 2020

Tenha uma proteção cambial na sua carteira


Olá pessoal,                                                                                                                                                                   
                            
  Como muitos devem saber o ministro da justiça Sérgio Moro pediu demissão nesta sexta-feira de forma não amigável e com isso instalou-se uma grave crise institucional dentro do governo federal. Isso porque o ministro era tido como o pilar moral do governo de Jair Bolsonaro por ter sido uma figura emblemática na operação Lava-Jato. Com esse fato ocorrido constata-se mais uma vez o quão frágil e instável é o nosso país do ponto de vista político, impactando fortemente a economia nacional. Sendo assim, a crise causada pela pandemia da covid-19 se aprofunda ainda mais no nosso país, derrubando ainda mais a confiança daqueles que pretendem investir no nosso país e, consequentemente, aumentando o risco-país que por sua vez se reflete na piora dos indicadores econômicos, como o câmbio, por exemplo.   



  Já faz um bom tempo que eu venho alertando aqui no blog, desde o início do governo de Jair Bolsonaro (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui), (ver aqui) e (ver aqui), que o futuro do nosso país ainda é incerto e, resumidamente, ainda estamos num longo processo de amadurecimento institucional, democrático e econômico que não sabemos por quanto tempo irá durar (talvez várias décadas). E, sendo assim, é primordial para o investidor brasileiro contar com uma proteção (hedge) cambial na sua carteira. Recomendo ter ao menos 10% da carteira alocado em ativos internacionais, independente de qual forma (corretora brasileira ou corretora norte-americana). E talvez o leitor se pergunte: “por que é tão importante essa tal proteção (hedge) cambial?”. Porque a inflação que corrói o nosso poder de compra no longo prazo é composta basicamente por itens precificados em dólar norte-americano. Pare para analisar quantos bens e serviços que você e sua família consomem ao longo do tempo são importados ou os insumos que os compõem são importados. São muitos não é mesmo? Os ativos de renda fixa atrelados à inflação, como o título público Tesouro IPCA+ 2035 ou um CDB de longo prazo indexado ao IPCA de algum bancão, não serão nem de longe suficientes para repor o poder de compra perdido ao longo dos anos. Isso porque, conforme eu expliquei neste artigo aqui em 2018, o IPCA (índice oficial da inflação no Brasil) divulgado pelo IBGE anualmente não reflete necessariamente a inflação dos bens e serviços consumidos por você e sua família em um determinado período, pois o IPCA é uma média e, sendo assim, não representa a “verdadeira corrosão” do poder de compra da sua renda. Eu mesmo tenho um exemplo pessoal bem prático desse fenômeno: comprei um remédio importado, fabricado na Espanha, para uma pessoa da minha família há 01 (um) mês atrás por R$76,50 e ontem comprei novamente por R$105,60. Um aumento de 38% em um mês (pasmem). E isso ocorre porque o real se desvalorizou bastante nesse último mês.                           
  Muitos investidores podem refutar essa minha tese alegando que grandes investidores brasileiros, como o Luiz Barsi Filho, o maior investidor pessoa física da bolsa brasileira, nunca investiram em ativos internacionais para chegar aonde chegaram. Mas será mesmo? O investidor deve analisar a seguinte situação: investidores como o senhor Luiz Barsi Filho começaram a investir há várias décadas atrás numa época em que o mercado acionário era pouco disseminado entre os brasileiros, sendo restrito a um ínfimo grupo de investidores. Ora, se a própria bolsa de valores do país era pouquíssimo requisitada nessa época, o que dizer do mercado acionário estrangeiro? Acredito (posso estar enganado) que na época os investidores faziam o hedge cambial comprando dólares ou investindo em fundos cambiais atrelados ao dólar através de grandes bancos de investimento. É diferente de hoje em dia onde o mercado acionário norte-americano é muito mais acessível ao investidor. E tem mais um detalhe que poucos prestam atenção: é possível fazer o hedge cambial investindo em ações de empresas exportadoras, pois as receitas delas são precificadas em dólar. Mas para isso é necessário estudar a fundo essas empresas, saber com detalhes quais são os business delas. São para poucos. Esse expediente foi utilizado por grandes investidores brasileiros, principalmente pelo senhor Luiz Barsi Filho, que investiu em empresas exportadoras de papel e celulose, como a Klabin e a Suzano (ver esse vídeo). Além do mais, acredito que ele tenha algum dinheiro aplicado em fundos cambiais, mesmo que ele não revele em suas aparições públicas.  
         
Luiz Barsi Filho

  Enfim, cabe ao investidor ponderar todos os fatores antes de tomar qualquer decisão de investimento. Não é uma decisão fácil. Mas pare para pensar: se você é um investidor que consome muitos produtos importados e viaja bastante para o exterior, será que apenas investindo localmente e contribuindo para a previdência social você conseguirá manter o poder de compra da sua renda? Pense nisso.

Abraços,
Seja Independente


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