Olá pessoal,
Hoje eu vou falar sobre um tema que é recorrente nas mídias especializadas
em investimentos já faz algum tempo, até mesmo antes da atual crise. Muitos até
consideram a pandemia do covid-19 como a agulha que vai estourar a bolha
inflada pelos principais bancos centrais ao redor do mundo, causando a maior
depressão econômica mundial dos últimos 70 anos como muitos afirmam. Alguns até
afirmam que essa depressão seria pior do que a grande depressão da década de 30
causada pela quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929. E isso seria
muito ruim no longo prazo para os investimentos em renda variável. Mas não há
motivo para tanto desespero. Vou explicar melhor.
Desde a crise do subprime em
2008 nos EUA, os bancos centrais vêm cortando juros para expandir a base
monetária em nível planetário, contribuindo para o aumento substancial das dívidas
de todo o sistema financeiro mundial, incluindo os próprios bancos centrais,
bancos, empresas e famílias, num processo conhecido como QE (Quantitative
Easing) (ver
aqui). Isso já vinha sendo discutido por muitos economistas bem antes da
eclosão dessa pandemia e muitos deles criticaram essa política monetária agressiva
adotada pelos países afirmando que os bancos centrais estão sem munição e assim
podemos estar perto do “pico do capitalismo” como também afirmaram que esse ano
de 2020 será um ponto de inflexão (ver
aqui). Diante desse cenário estarrecedor muitos podem estar se perguntando agora:
será que não é mais prudente resgatar integralmente todo o dinheiro investido
no mercado financeiro, sacar uma boa parte em dinheiro vivo e comprar ouro
físico para guardar tudo no cofre, e aguardar essa crise passar? A história
fala por si só. Nos últimos 100 anos o mundo passou por diversas crises
econômicas, causadas pelos mais diversos motivos, como surtos epidêmicos (gripe
espanhola), guerras mundiais, guerras regionais, moratórias de países
emergentes, embargos econômicos e choques inflacionários (ver
aqui). E mesmo assim o mundo não acabou e as pessoas continuaram
trabalhando, investindo e prosperando. Muitos investidores de sucesso, como
Warren Buffett, passaram por várias dessas crises e não quebraram, pelo
contrário, enriqueceram como nunca. No Brasil, o maior investidor pessoa física
da bolsa de valores, Luiz Barsi, começou a investir na década de 70 e passou
por diversas crises nacionais, como a hiperinflação das décadas de 80 e 90, impeachment
de dois presidentes e dezenas de crises institucionais (veja
essa entrevista dele aqui).
Mas não estou sugerindo e nem aconselho que os investidores invistam da
mesma forma que Luiz Barsi e Warren Buffett investem. Esses investidores começaram
cedo, estudaram o mercado acionário e contaram com grandes reservas. Nem todo
investidor tem o perfil necessário para alcançar resultados semelhantes no
longo prazo. Eu sugiro que o investidor diversifique os seus investimentos com
sabedoria, inclusive geograficamente. Em épocas de depressão econômica os
países emergentes, como o Brasil, são os que mais sofrem, por terem uma
economia mais frágil. Portanto, sugiro investir em ativos internacionais, seja
através de ativos negociados localmente ou diretamente no exterior (EUA),
conforme expliquei neste artigo (ver
aqui). Vejo muitos digital
influencers hoje em dia postando gráficos como esse abaixo incentivando
investidores a continuarem investindo em ações nacionais para o longo prazo.
Não critico esse movimento por parte deles. Eles apenas se esquecem de informar
que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura (quem nunca
viu essa recomendação em lâminas de fundos de investimento?), mesmo com o
desempenho do índice Bovespa estando dolarizado no gráfico, pois o nosso país
está perdendo o bônus demográfico paulatinamente e a nossa produtividade é muito
baixa, haja vista o subdesenvolvimento da nossa indústria e a péssima educação
oferecida aos nossos jovens. O crescimento médio do PIB brasileiro nos últimos
40 anos foi de parcos 2,5% contando com o bônus demográfico. E sem esse bônus, quanto
irá crescer? Sem crescimento econômico as empresas listadas na bolsa terão mais
dificuldade para crescer, diminuindo rentabilidade e distribuição de
rendimentos. Não estou dizendo que não devemos ser otimistas em relação ao
nosso país. Não é isso. Eu apenas estou dizendo que o nosso futuro ainda é
muito incerto, sem perspectivas de melhora. Mas pode mudar para melhor, com certeza.
Depende somente de nós.
Talvez o leitor esteja se perguntando onde estou querendo chegar. Estou
querendo chegar ao seguinte ponto: no mundo dos investimentos, a única certeza
que o investidor tem é a incerteza em relação ao futuro da economia mundial e
da economia local. Mas ao diversificar geograficamente, os riscos no mercado
acionário diminuem sem necessariamente diminuir a rentabilidade. Muitos
investidores optam por investir apenas localmente por considerarem ter uma
estratégia melhor. Sem problema. Não existe uma receita padronizada. Essa falta
de proteção pode ser compensada por uma alocação em renda fixa maior, por
exemplo. Mas para quem já tem um patrimônio relevante o hedge cambial é uma
ideia a ser considerada.
Abraços,
Seja Independente
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