Olá
pessoal,
Neste artigo vou falar sobre um tema que eu
considero de suma importância para a formação de qualquer investidor, a renda
fixa e a sua correlação com a inflação. Considero esse tema de suma importância
pelo fato de influenciar diretamente na alocação dos ativos que compõem uma
carteira.
Na minha opinião pessoal, após o estudo
aprofundado desse tema é que o investidor decidirá qual é o seu verdadeiro
perfil, se será conservador ou arrojado. Digo isso porque acredito que a meta principal
de todo e qualquer investidor é formatar uma carteira de investimentos que
consiga obter uma rentabilidade real acima da inflação no longo prazo (carteira
previdenciária, como diz Luiz Barsi Filho). Em outras palavras, é o tema que
definirá se o investidor deseja: 1) encarar os seus investimentos como uma
fonte de renda passiva que irá sustentá-lo após a sua renda ativa fruto do seu
trabalho não mais conseguir prover as suas necessidades, seja pelo fato do
investidor não mais desejar trabalhar ou pelo fato do mesmo não ter mais
condições físicas e mentais para o labor; ou 2) encarar os seus investimentos como
um complemento para a sua aposentadoria, como uma fonte de renda secundária que
tem a função de proporcionar segurança para o indivíduo caso a sua principal
fonte de renda tenha problemas.
A renda fixa, como todos nós sabemos, se
trata basicamente de um empréstimo que o investidor concede a um governo ou a
uma instituição financeira por um prazo determinado e atrelada a um índice de
preço. E com a variação do índice é que temos a taxa de inflação. Para calcular
o índice de preço, é necessário escolher o público-alvo, a cesta de bens e
serviços típicos deste público-alvo, a fórmula de cálculo, a periodicidade da
coleta de dados e a revisão da amostra. O indicador de inflação oficial do
Brasil, como bem sabemos, é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo). Ele é calculado pelo IBGE e agrega famílias com renda mensal de 1 a 40
salários mínimos. Existem outros índices de preço no Brasil, como o IGP-M e o
INCC, mas vamos nos ater ao IPCA, que por ser o indicador oficial é o IP mais
utilizado na indexação dos instrumentos de renda fixa. Por exemplo, os títulos
públicos pós-fixados ofertados pelo Tesouro Direto são atrelados ao IPCA assim
como alguns CDB de bancos e debêntures de empresas privadas. Existem também os
títulos públicos prefixados, mas ainda assim o IPCA é considerado no cálculo da
taxa prefixada desses títulos. O IPCA ainda serve de parâmetro para a definição
da taxa Selic determinada pelo Banco Central. A taxa Selic, por sua vez,
determinará a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que é a taxa
de juros praticada pelos bancos nas operações financeiras. Resumindo, o IPCA é
o índice que praticamente “precifica” toda a economia do país.
Pois bem,
tomando por base o IPCA, podemos nos aprofundar no estudo da renda fixa sob uma
ótica mais analítica. O IPCA, por ser baseado numa amostra de dados coletados
em um determinado período, representa uma média, correto? A média de preços dos
bens e serviços típicos de um público-alvo de uma determinada região. Portanto,
podemos concluir que cada cidadão brasileiro, trabalhador e pai de família, tem
o seu “próprio IPCA”, ou seja, naquele determinado período ele consumiu
determinados bens e serviços, uns em maior quantidade e outros em menor
quantidade. Até aí tudo certo ok? Mas aí você me pergunta o que isso tem a ver
com os seus investimentos e eu te respondo: isso tem TUDO a ver com os seus
investimentos. Vamos exemplificar um pouco para facilitar o nosso entendimento:
Uma casal de classe média baixa, ambos funcionários públicos do Estado ondem
residem, tem três filhos pequenos e moram em um apartamento alugado. O casal
também investe por conta própria e tem uma conta conjunta numa corretora. A
carteira de investimentos de longo prazo do casal é composta por 90% de renda
fixa (basicamente títulos públicos atrelados ao IPCA) e 10% de renda variável
(ações e fundos imobiliários), pois são muito conservadores. O casal sabe que o
maior investimento que podem fazer pelos filhos é dar-lhes uma boa educação.
Portanto, decidem investir pesadamente na educação dos três filhos até a
pós-graduação de cada um. Eles também arcam mensalmente com plano de saúde da
família, com o aluguel do apartamento e com as despesas de um veículo
financiado. Ao longo de 30 anos, devido a sucessivas crises financeiras pela
qual o país passou (baseando-se no fato que o Brasil é um país historicamente
instável), o casal de funcionários públicos não tiveram os reajustes
necessários para repor as perdas inflacionárias do período. Além disso, nesse
período de 30 anos a inflação dos serviços educacionais aumentou muito acima do
IPCA acumulado do período e a inflação dos serviços de saúde, por sua vez,
aumentou um pouco acima. Os outros bens e serviços se mantiveram estáveis, em linha
com o IPCA acumulado do período. Por mais organizado que o casal tenha sido com
o orçamento familiar no período, dificilmente eles conseguiram evitar a
contratação de empréstimos bancários para poder manter os filhos na escola e
arcar com o plano de saúde e outras despesas, caso a reserva de emergência
tenha sido insuficiente (e sabemos que na maioria dos casos é insuficiente
mesmo).
Diante do exemplo apresentado, podemos
concluir que a carteira de investimentos do casal provavelmente não conseguiu
atingir o seu objetivo, que é render em termos reais bem acima da inflação,
pois a maior parte da carteira esteve atrelada ao IPCA do período. Na melhor
das hipóteses a carteira empatou com o IPCA, ou seja, rendeu entre 0,5% e 1%
acima da inflação. Há quem questione essa minha teoria pelo fato do casal ter
direito a receber uma aposentadoria vitalícia do Estado, após anos contribuindo
para o RPPS (Regime Próprio Previdenciário). Acredito que seja do conhecimento
da maioria dos investidores que a Previdência Social, em especial a previdência
do funcionalismo público, é uma verdadeira bomba-relógio. Acredito que seja do
conhecimento de todos também que a reforma da previdência é uma medida bastante
impopular (e o motivo nós já sabemos), e por isso os governos futuros terão
bastante dificuldade para aprovar as “minirreformas da previdência” no Congresso
Nacional. Além disso, o casal sofrerá um aumento estrondoso dos bens e serviços
de saúde, como os planos de saúde e os remédios. Aliás, por falar em planos de
saúde, particularmente acredito que sofrerão uma mudança drástica nos seus
serviços de cobertura, deixando de cobrir serviços básicos como consultas e
exames, restando apenas os serviços de alta complexidade, como cirurgias e
internações hospitalares. Existe até a possibilidade de haver uma diminuição
dos custos dos planos e das consultas e exames nas redes particulares de saúde,
caso haja uma regulação pela ANS (Agência Nacional de Saúde). Mas enfim, não
sabemos o que irá acontecer. Mas voltando ao centro da questão, há ainda quem
questione essa minha teoria pelo fato de que existe a possibilidade do pai de
família aumentar exponencialmente a sua renda ao longo da sua vida laboral,
seja sendo um empregado bem remunerado na iniciativa privada, um autônomo que
se recicla frequentemente, ou um empresário bem-sucedido. Mas vale lembrar que
essa não é a regra. Muitas pessoas ficarão desempregadas por alguns períodos
por mais capacitadas que sejam, muitos autônomos perderão clientes para outros
concorrentes mais reciclados, e muitas empresas irão falir por mais que os seus
proprietários sejam resilientes. Portanto, o cidadão médio que decidir se
tornar um investidor terá que se arriscar um pouco mais na renda variável para
ter uma rentabilidade bem acima da inflação acumulada do período, de forma
garantida.
Mas eu
gostaria de lembrar ao colega investidor que não estou tentando convencê-lo a
excluir totalmente a renda fixa da sua carteira de investimentos. Pelo
contrário, a renda fixa deve constar obrigatoriamente na sua carteira,
servindo como amortecedor do risco sistêmico que está presente em toda e
qualquer carteira de investimentos. Em relação ao percentual ideal da carteira
alocado em renda fixa, isso varia muito com o perfil do investidor. Além do
perfil, acredito que varia muito também com outros fatores pessoais do
investidor, como o tipo de ocupação (empregado de empresa privada, funcionário
público, autônomo e empresário), a idade, a quantidade de dependentes, entre
outros.
Para finalizar, vale lembrar aquela famosa
expressão proferida pelo megainvestidor brasileiro Luiz Barsi Filho: “Costumo
chamar a renda fixa de perda fixa”. Ao proferir essa expressão, Luiz Barsi não
teve a intenção de induzir o investidor leigo e iniciante a excluir a renda
fixa integralmente da sua carteira, mas sim de aconselhar o investidor a não
alocar a maior parte de sua carteira previdenciária em renda fixa, pelos
motivos já expostos neste artigo. No meu humilde ponto de vista, o investidor
mais conservador que encare os investimentos como uma futura renda secundária
terá muito sucesso na sua empreitada alocando metade em renda fixa e metade em
renda variável, pois assim ele terá grandes chances de obter um retorno real um
pouco acima da inflação. Já para aquele investidor mais agressivo, que gosta de
estudar as empresas listadas na bolsa, tem boas noções de contabilidade e
economia, e sabe administrar os riscos (tem estômago), sugiro alocar a maior
parte em renda variável, sempre diversificando ao máximo os ativos na medida em
que o seu conhecimento ainda é pequeno. Por favor, não queira se comparar a
Luiz Barsi Filho e muito menos a Warren Buffett, pois somos meros investidores
mortais em relação a esses titãs. A humildade e a paciência são as qualidades
mais importantes do investidor.
Espero ter contribuído para a comunidade de
investidores com esse artigo. Tenho consciência absoluta da minha pequenez como
investidor, mas espero que esse blog ajude sempre cada vez mais os investidores
iniciantes e também espero aprender muito com os outros investidores mais
experientes que já tem blog de investimentos há muito mais tempo do que eu.
Abraços,
Seja Independente
eu nunca conheci alguém que saiu do zero e chegou na IF pela RF
ResponderExcluirsó isso pra mim, no âmbito pessoal define a RF para investimentos
fora o fato de que falando de TD temos um risco gigantes de calote a cada ano que passa, já falei até sobre isso no blog e na época foi apedrejado pelos tesouretes, mas é isso aí, nada como um dia depois do outro pra te justificar
ps. te adicionei na lista de blogs lá.
É verdade VD, nada como o conhecimento para te fazer enxergar os fatos. Mas continue com o seu trabalho no blog que é muito importante para quem deseja conquistar as suas metas!
ExcluirObrigado por me adicionar!