sábado, 23 de fevereiro de 2019

Sejamos antifrágeis!


Olá pessoal,

  Hoje irei reforçar mais uma vez a importância de ser conservador na formatação da carteira, ou como diz o título do artigo, “antifrágil”. Peguei esse termo emprestado do livro “A Lógica do Cisne Negro” de Nassim Taleb, que já havia citado anteriormente num dos artigos mais recentes do blog. Alguns podem até me achar repetitivo ou até mesmo chato, mas dada a importância do tema no meu ponto de vista e pelo fato de ser uma época oportuna para tal, eu optei por reforçar essa ideia de conservador/antifrágil através de diversos artigos.
  Quando muitos ouvem falar em antifragilidade, já associam a estratégia Barbell (estratégia do supino), que consiste em montar uma carteira composta por 90% de títulos públicos e 10% de opções de ações. Particularmente, não curto muito investir em opções, por diversos motivos. No Brasil, são pouquíssimas as empresas que ofertam essas opções, geralmente as mais líquidas, caso de Petrobrás, Eletrobrás, Vale e os grandes bancos. Outro motivo é o fato de serem focadas no curto prazo, então o investidor termina gastando mais no curto prazo com estas opções. Além disso, para que o investidor tenha sucesso, precisa ter um certo conhecimento em análise gráfica e em economia, especificamente nos setores das empresas que ofertam essas opções, o que é para poucos. Então, no final das contas, o custo-benefício tende a ser baixo, mas apenas para quem não tem o conhecimento necessário, que é o caso da grande maioria. Na Bolsa de Valores americana, Wall Street, que é disparada a maior do mundo, isso já é mais factível, dada a oferta de opções e a quantidade de investidores que possuem esse conhecimento. Mas obviamente que já existem no Brasil vários investidores que adotam essa estratégia com sucesso e não tenho nada contra isso, apenas acho que é mais prático para o investidor amador assim como eu investir focado no longo prazo analisando os fundamentos das empresas.
  Então, baseando-se nesse ponto de vista, vou apresentar alguns pontos relevantes para a formatação de uma carteira: 1°) Contar com uma boa reserva de emergência, que possa proteger a carteira previdenciária do investidor dos grandes imprevistos que acometem não apenas a vida do investidor, mas também o desempenho da própria carteira. Muitos investidores subestimam a importância dessa reserva, pois se apressam demais em atingir a independência financeira e acabam focando demais na carteira e se esquecem da proteção dela. Na medida em que o investidor aumentar o seu padrão de vida, ele deve aumentar o aporte na reserva de emergência, e não apenas na carteira; 2°) Diversificar a renda variável em classes de ativos, o que significa dizer que o investidor não deve apenas diversificar o seu portfólio de ações, mas também a sua renda variável como um todo. Por isso é importante investir também em fundos imobiliários, para diminuir a assimetria, o risco, a volatilidade ou o beta da sua carteira. Se o investidor tiver recursos suficientes para tal, também pode investir em imóveis físicos, como salas comerciais, por exemplo, mas com muito estudo e planejamento prévio. Também pode investir em um fundo multimercado focado em moedas, ou seja, que aufira rentabilidade comprando e vendendo moedas de vários países, como dólar, euro, iene, libra, rublo, franco suíço, real e outros; 3°) Diversificar a renda variável geograficamente, o que significa dizer que o investidor não deve investir apenas localmente, no país em que reside, mas no exterior também. Obviamente que investir fora pode se tornar muito oneroso ou até mesmo inviável, mas hoje já existem possibilidades viáveis de se investir fora sem a necessidade de remeter dinheiro para o exterior, como por exemplo, o índice S&P 500 que é ofertado na Bovespa com o código IVVB11. Esse índice é administrado pela BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, com sede em Nova York. Também é possível investir em fundos multimercados que investem no mercado internacional como um todo, através de algumas corretoras, como a XP Investimentos, por exemplo. A importância dessa estratégia reside na necessidade de proteção cambial e sistêmica, pois nunca sabemos o que pode acontecer politicamente com um país; 4°) Investir em renda fixa focando exclusivamente na segurança,  o que significa dizer que aqui desaparece o benefício da diversificação, já que o foco não é mais a rentabilidade, mas sim a segurança. A única função da renda fixa é amortecer o risco sistêmico da carteira. Portanto, não há necessidade de diversificar em outros ativos de renda fixa, como CDB de bancos menores ou debêntures incentivadas prometendo rentabilidades de 120% do CDI ou IPCA + 9%, com risco de dar calote. É melhor investir apenas nos títulos públicos, já que são os ativos mais seguros que existem em qualquer país, pois o risco do governo dar um calote é baixíssimo ou quase inexistente.
  Muitos economistas mundo afora já alertam para o risco de eclodir mais uma crise mundial, tal como a de 2008. Apenas não sabemos com exatidão em que data eclodirá nem tampouco a gravidade dela. A única coisa que está ao alcance do investidor é fazer a tarefa de casa, o tradicional feijão com arroz, o simples mas eficaz, enfim, o que funciona, que são essas estratégias que eu adoto para a minha carteira. Não há necessidade, no meu entendimento, de adotar a estratégia Barbell. Basta montar uma reserva de emergência com uma margem de segurança para mais e nunca para menos, diversificar a sua carteira variável em classes e geograficamente e ser ultraconservador na sua renda fixa. A proporção entre a renda variável e a renda fixa fica a critério do investidor, ninguém mais além dele pode determinar. Na boa, vocês acham mesmo que os grandes investidores, como Warren Buffet, Charlie Munger, George Soros, Luiz Barsi, Lírio Parisoto e tantos outros, aqui no Brasil e lá fora, chegaram até o topo sem adotar essas estratégias? Sem contar com uma boa reserva de emergência para cobrir os imprevistos? Sem diversificar as suas carteiras em classes e geograficamente? De jeito nenhum!
  Enfim, muitos podem até discordar de mim, mas acredito muito nessas estratégias. São elas que permitem o investidor sobreviver e continuar estudando e aprimorando os seus investimentos, e deixando os juros compostos fazer o seu trabalho “milagroso”. Não podemos prever o futuro, mas podemos nos precaver. Isso está perfeitamente ao nosso alcance. E talvez não tenha dito o mais importante aqui: não dê ouvidos aos pessimistas, invejosos e aos falsos gurus!

Grande abraço a todos,
Seja Independente




segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Não sejamos otimistas demais!


Olá pessoal,

  Hoje eu li uma matéria no Infomoney sobre uma palestra proferida pelo ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC e atual secretário de Fazenda de SP, Henrique Meirelles, no qual ele diz que a reforma da previdência é o “mínimo necessário”, mas não será capaz de resolver todos os problemas do país. Eu concordo com ele. Quem lê meus artigos irá se lembrar do artigo “Analisar os fundamentos da economia é muito importante”, no qual eu digo que ainda continuamos com fundamentos ruins. Pois bem, esse artigo de hoje continua com a mesma linha de raciocínio, mas pegando um gancho com essa matéria.
  Na palestra, o ex-ministro disse que daqui a dois ou três anos, o crescimento do país só será mantido caso o ambiente dos negócios seja mais saudável (ver matéria aqui). Em linhas gerais, isso é explicado por mim com outras palavras nesse outro artigo citado. Para que ocorra uma melhora no ambiente de negócios, são necessárias várias reformas, inclusive outra reforma trabalhista que seja mais justa para ambas as partes. Também é necessária, para mim a mais importante, uma reforma no ensino público de forma abrangente e perene, para tirarmos esse gigantesco e lamentável atraso na educação. As reformas previdenciária e tributária, por si só, não resolvem todos os nossos problemas, pois elas resolvem apenas o déficit fiscal do governo, mas não a anemia do nosso setor produtivo. Sem contar a probabilidade de desidratação dessas reformas no Congresso Nacional, o que diminuiria muito a eficácia delas. E não vou nem falar da reforma política, pois eu sei que essa é quase utópica. Percebam meus caros colegas, o tamanho dos nossos desafios. Vão levar tempo para saírem do papel e mais tempo para começarem a surtir efeito. Estamos falando aqui em décadas, não em meses ou anos. Não vai ser em um mandato presidencial de quatro anos que as coisas irão se resolver. Não existe salvador da pátria. O que existe, de fato, são pessoas e cultura. E esses dois itens requerem muito tempo para evoluir.
  Muitos que estão lendo esse artigo agora podem estar me achando pessimista. Sim, eu sei disso. Mas eu prefiro me considerar um “realista com os pés no chão”, um eufemismo para pessimista. É por isso que sou cético em relação à maioria dos nossos ativos no longo prazo. Apenas os setores mais resilientes resistem. Os setores de consumo cíclico tendem a sofrer no longo prazo mesmo, não tem jeito. Sendo assim, não me resta outra alternativa a não ser conservador dentro da minha carteira “agressiva”. O dinheiro sempre flui de volta para o setor financeiro, pois é dele que provêm todos os recursos que mantem a economia, inclusive do governo. Ou por acaso vocês acham que os bancos tiveram os maiores lucros da bolsa nos últimos anos, em plena recessão, porque são mais bem administrados do que as outras? Não é à toa! Quanto aos setores elétrico, hospitalar e educacional, esses possuem uma demanda inelástica, principalmente o elétrico, e sendo assim, tendem a suportar mais os efeitos de uma recessão.
  Portanto, meus caros colegas, na minha humilde opinião, sejam céticos em relação a dicas quentes, não importa da onde venha, nem que seja da melhor casa de análise ou melhor corretora do mundo. O mercado sobrevive exatamente disso, das dicas quentes, pois é isso que paga as contas dele. Quanto mais você seguir as dicas, mais você vai girar a sua carteira, consequentemente, mais você vai pagar assinatura ou corretagem, e mais você vai se ferrar. O que eu aconselho, sem querer ser o dono da verdade, é estudar muito e formatar a sua carteira por conta própria, errando pouco e acertando muito. Só assim você sobrevive. A palavra de ordem para quem está começando, assim como eu, é sobrevivência. Se você quebrar no início, fica muito mais difícil!

Abraços,
Seja Independente