domingo, 5 de julho de 2020

Taxa de juros (Selic) baixíssima e dólar altíssimo: como resolver essa equação?


Olá pessoal,

  Neste artigo de hoje eu falarei sobre um dilema econômico cuja solução está longe de ser unânime entre os economistas. Afinal, qual é a melhor política monetária para um país subdesenvolvido como o Brasil nos dias de hoje? Ancorar a taxa de juros em patamares maiores e permitir a cotação do dólar baixar, ou empurrar a taxa de juros para patamares mínimos e afrouxar o aumento agressivo da cotação do dólar, que é a opção adotada atualmente pelo Ministério da Economia? Eu sei, é um pouco mais complexo do que o normal tomar uma decisão como essa quando existe uma infinidade de variáveis que devem ser levadas em consideração. Vamos discutir.



    Para quem não é muito familiarizado com o estudo da Economia, permita-me tecer algumas breves explicações. A taxa de juros básica fixada pelo Banco Central, chamada Taxa Selic, é a taxa que irá balizar todas as taxas de juros das operações financeiras praticadas pelo mercado. Quando o governo decide adotar uma política monetária contracionista para debelar uma inflação descontrolada, ele ancora a taxa de juros em patamares bem elevados, aumentando a taxa real de juros, que é aquela descontada da inflação. Isso atrai investidores estrangeiros que injetam dólares na nossa economia para surfar nessa onda de juros reais altos e, consequentemente, desvalorizam o dólar perante o real, fenômeno ocorrido na década de 90 nos primeiros anos do Plano Real. Já quando o governo decide adotar uma política monetária expansionista para reanimar uma economia deflacionada ou estagflacionada, ele empurra a taxa de juros para patamares mínimos, deixando a taxa real de juros em muitos casos, negativa. Isso desmotiva investidores estrangeiros a aplicar dólares em nossos juros, o que acarreta uma fuga maciça de dólares, valorizando-o perante o real. Esse último tipo de política monetária é o que está sendo adotado pelo nosso Ministro da Economia, Paulo Guedes. E é por isso que estamos vendo um dólar tão alto.  



  E qual a minha posição em relação a isso? Primeiramente, devemos levar em consideração que a economia mundial ainda está sentindo os efeitos da crise do subprime de 2008, onde o FED (Banco Central Americano) injetou trilhões de dólares na economia. Com um risco iminente de estourar uma nova crise econômica na última década, vários investidores ao redor do mundo resgataram os seus dólares investidos em países emergentes e os aplicaram nos EUA, valorizando a moeda norte-americana perante quase todas as moedas do mundo. Além disso, com a eclosão da pandemia da covid-19 no mundo inteiro, essa busca desenfreada por dólares se intensificou, valorizando-o ainda mais. Diante dessa atual conjuntura econômica internacional e da atual estagnação econômica nacional que já dura vários anos (desde a recessão de 15-16), podemos dizer que a política monetária expansionista é a ideal nesse momento, no meu entendimento. Mas isso está longe de ser um consenso entre os economistas e os estudiosos da matéria. Para quem quer se aprofundar mais nesse assunto, recomendo estudar o pensamento dos economistas da Escola Austríaca de Economia, pensamento esse difundido aqui no país pelo Instituto Mises Brasil. Mises é uma referência ao economista austríaco Ludwig Heinrich Edler von Mises, membro dessa escola. No próprio site do instituto existe um artigo onde se discute esse dilema sob o ponto de vista deles, que é bem ortodoxo (ver aqui). Segundo essa escola de pensamento, que é puramente liberal, todo banco central deveria ser independente e talvez nem devesse existir, pois o monopólio governamental de criação da moeda é o responsável pelas crises econômicas e sendo assim deveriam existir várias moedas em todos os países, concorrendo entre si, cada qual procurando ser a melhor para os consumidores. Esse pensamento é o que corrobora a tese das criptomoedas.    

Ludwig Heinrich Edler von Mises



  Muitos também advogam a favor dessa política monetária expansionista pelo fato de que com um dólar mais alto o Banco Central tem condições de diminuir ainda mais a dívida pública, já que o Brasil é um dos países que mais tem reservas internacionais em dólar no mundo. Alguns economistas discordam frontalmente dessa atitude, como é o caso dos seguidores da Escola Austríaca de Economia. Eu, particularmente, não tenho uma opinião formada a respeito, pois eu não sei quais são os custos envolvidos nesse tipo de transação e, sendo assim, não sei se compensa mais rolar a dívida pública ou vender essas reservas. Apenas sei que é muito importante para qualquer país emergente possuir reservas internacionais em dólar e ouro para utilizá-los em casos de extrema escassez de moeda nacional.

Abraços,
Seja Independente

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