quarta-feira, 25 de julho de 2018

Os Setores da Economia










Olá Pessoal,

  Neste artigo vou falar sobre um assunto específico da renda variável, os setores da economia. Primeiramente, é importante salientar que uma das finalidades da renda variável é garantir uma renda passiva para o investidor através do pagamento de proventos, além de garantir uma rentabilidade real acima da inflação, preservando o poder de compra do investidor ao longo do tempo. O investidor inteligente reconhece que o pagamento regular de proventos e o seu reinvestimento acelera exponencialmente o efeito dos juros compostos na rentabilidade real acumulada da carteira. Portanto, antes do investidor analisar os setores da economia e as empresas, ele deve considerar esse detalhe como pressuposto básico.
   Diante desse pressuposto, o investidor deve adotar como critério principal na análise o nível de blindagem de cada setor, ou seja, selecionar as empresas daqueles setores blindados contra crises econômicas, cujos fundamentos não se alteram de forma substancial, como lucratividade, margem operacional, geração de caixa, nível de endividamento e distribuição de dividendos. Geralmente são setores que tem uma demanda inelástica, como por exemplo, o setor financeiro, o setor elétrico, o setor de saúde, o setor de educação, entre outros. Sabemos que, mesmo num ciclo econômico de baixa, o consumidor não encerrará a sua conta bancária e deixará de consumir os produtos bancários, não deixará de pagar a conta de energia, não deixará de pagar o plano de saúde da família, e também não deixará de pagar a mensalidade escolar dos filhos. Entretanto, o consumidor passará a eliminar da sua cesta de bens e serviços aqueles tidos como “supérfluos” ou aqueles que podem ser substituídos por outros similares mais baratos.
   Iniciarei a minha abordagem selecionando aqueles setores que costumo excluir da minha carteira previdenciária por não atenderem o critério da blindagem e outros critérios. O primeiro setor a ser excluído é o setor imobiliário, até pelo fato de ser um setor que eu conheço bem. Sou graduado em Ciências Contábeis, mas nunca cheguei a exercer a profissão de fato, pois desde que me formei atuo como gerente administrativo de uma construtora. É um setor que necessita de um capital de giro muito elevado, costumam ser alavancadas e dependem de um mercado aquecido com juros baixos, para que o consumidor possa contrair um financiamento bancário ou direto com a incorporadora. Além de tudo isso, ainda contam com uma mão-de-obra desqualificada (pelo menos no Nordeste, não sei em outros regiões do Brasil e em outros países, e antes que alguém venha me criticar peço para que deixe o politicamente correto de lado se quiserem ler meus artigos), que dispensa maiores comentários. Há quem argumente o fato de existirem algumas empresas do setor com boa governança corporativa e bom dividend yeld que valem a pena investir, como Ezetec e MRV. Bem, fiquem à vontade. Se o caro colega investidor analisou os fundamentos de ambas e gostou, tudo bem, mas eu prefiro não arriscar. E ainda me esqueci de mencionar o projeto de Lei dos Distratos que está tramitando no Congresso com bastante dificuldade, cuja finalidade é dar um pouco mais de segurança jurídica para os contratos e tem papel relevante para o futuro do mercado imobiliário. O segundo setor a ser excluído é o setor de consumo cíclico em geral, como alimentos, supermercados, lojas de todos os tipos, indústrias de todos os tipos, companhias aéreas, entre outras. Numa recessão, como a que houve recentemente, o consumo das famílias e o crédito caem drasticamente, impactando fortemente o resultado dessas empresas. Nós sabemos que o Brasil é um país instável historicamente, com governos invariavelmente intervencionistas na economia, acarretando recessões ao longo do tempo. Dessa forma, fica muito difícil para essas empresas manter um bom nível de lucratividade, boas margens operacionais, uma boa geração de caixa e um nível de endividamento saudável. Sem bons fundamentos, não haverá lucros futuros e consequentemente não haverá dividendos a serem distribuídos, impactando fortemente os resultados no longo prazo. Mas vale a pena aqui fazer uma ressalva em relação à Ambev, uma empresa do setor de consumo de bebidas, que por ter se tornado uma multinacional e ter se consolidado como líder no mercado nacional pelo fato de possuir marcas que caíram no gosto do brasileiro, ela se tornou uma exceção. É uma empresa com bons fundamentos e que tem gerado valor para os seus acionistas, apesar de atualmente enfrentar forte concorrência da Heineken.  O terceiro setor a ser excluído é o setor de exportação em geral, incluindo commodities, papel e celulose, siderurgia, entre outros. É um setor complexo, que envolve diversas variáveis e por isso costuma ter uma rentabilidade muito volátil. O faturamento delas está atrelado ao câmbio, principalmente ao dólar. Sabemos que a geopolítica global interfere diretamente na variação cambial. Além disso, a política comercial dos países importadores interfere fortemente no resultado dessas empresas. Sem contar os diversos problemas de conjuntura doméstica. Por isso, fica muito difícil analisar empresas desse setor, mesmo que tenham uma boa governança corporativa, pois a análise dos indicadores é de suma importância e mesmo o melhor analista profissional terá dificuldade para tal, tamanha a complexidade. O quarto setor a ser excluído é o setor de telefonia, mas eu excluo mais por uma questão de preferência pessoal. O critério que eu utilizo aqui é o de governança, pois essas empresas costumam ser mal administradas (pelo menos é o que eu vejo nos relatórios de análise), e particularmente como consumidor nunca gostei da prestação de serviço dessas empresas, sempre achei um lixo. Vejam por exemplo o caso da Oi, que antigamente pagava dividendos gordos todo ano e depois perdeu a capacidade de pagamento. É bem verdade que as empresas desse setor costumam ter um bom dividend yeld, mas esse indicador não deve ser analisado isoladamente, mas sim em conjunto com os outros indicadores, vide o caso da Oi.
  Após esse “filtro” dos setores, podemos escolher com mais clareza as empresas que irão compor a nossa carteira previdenciária. Primeiramente, é importante salientar que os setores de saúde e educação, apesar de possuírem a natureza de consumo (prestação de serviços), não fazem parte do setor de consumo cíclico, pelo menos na minha visão, pelo fato de serem setores blindados contra crise, pois como havia falado anteriormente, nenhum consumidor deixará de pagar o plano de saúde familiar e nem a mensalidade escolar dos filhos. E aqui vale destacar o futuro promissor desses dois setores no país. Sabemos que a demografia brasileira está mudando ao longo do tempo, com a população idosa aumentando de tamanho, gerando uma demanda crescente por serviços de saúde. Além disso, uma evolução tecnológica dos procedimentos na área irá permitir um barateamento maior dos serviços, inclusive dos estabelecimentos privados. Com isso, haverá uma demanda maior por parte das classes de renda baixa, aumentando o faturamento do setor em escala. Em relação ao setor educacional, sabemos que ficou claro e evidente, após a recessão, a necessidade da mão-de-obra brasileira se especializar cada vez mais, tanto no ensino técnico como no superior, para que possamos desenvolver urgentemente a nossa infraestrutura e a nossa indústria, pilares essenciais para o crescimento duradouro do nosso PIB. Acredito que com as reformas tributária e previdenciária, aliadas a uma política de fortalecimento do setor privado, empreendedores nacionais e investidores estrangeiros irão se sentir mais estimulados em investir nesses setores. Já o setor financeiro brasileiro é um setor que dispensa maiores comentários. Sabemos que o nosso setor bancário é o mais lucrativo do mundo, gerando lucros bilionários ano após ano, mesmo em períodos de crise. As seguradoras não são tão rentáveis quanto os bancos, pois é um setor ainda em crescimento, mas que tem muita margem para crescer, ainda mais levando em consideração a demografia e o iminente colapso da Previdência Social, aumentando a procura por planos de previdência privada e seguro de vida. Vale mencionar aqui também a empresa B3, que é a nossa bolsa de valores, que se fundiu recentemente com a Cetip. É uma empresa com ótimos prognósticos, pois tende a crescer bastante na medida em que a economia do país for se desenvolvendo. Todo e qualquer país desenvolvido tem uma bolsa de valores forte, com a entrada crescente de empresas que desejam abrir o seu capital ao público investidor em geral. Temos também o setor elétrico, que se destaca pela sua forte “blindagem” contra crise, pois a energia elétrica é um produto com demanda totalmente inelástica, pois nenhum consumidor deixará de pagar a conta de energia em momentos de crise, a não ser em casos extremos onde o consumidor, por estar altamente endividado, perde a capacidade de pagamento. Mesmo nesses casos raros, é algo que costuma ser temporário. Nesse setor, destaco a Taesa, que é uma transmissora de energia elétrica. Ela recebe pela disponibilidade de linhas transmissoras e não apenas pela quantidade de energia que é transmitida. É uma das empresas mais blindadas do setor, se não for a mais, e costuma ter um dividend yeld altíssimo. Também temos as geradoras, com seus portfólios de hidrelétricas, termelétricas, eólicas, entre outras fontes. Possuem contratos de concessão com prazos extensos, gerando valor para os seus acionistas por décadas. Antes que eu me esqueça, também gostaria de tecer breves comentários sobre os fundos imobiliários. Em minha opinião (quem quiser pode discordar de mim), existem poucas opções de fundos imobiliários interessantes na bolsa de valores. Muitos fundos possuem apenas um único imóvel, como fundos de shopping centers, universidades, hospitais, entre outros. Acho isso muito arriscado, pois todo o risco está concentrado em um único locatário ou poucos locatários e em uma única região. Dou preferência na minha carteira a fundos de lajes corporativas que se concentram em São Paulo (será a principal capital da América Latina na próxima década) e outros estados das regiões sul e sudeste, que tenham muita liquidez em relação aos demais e que tenham gestores e administradores competentes reconhecidos pelo mercado (Intrag, Rio Bravo, BTG Pactual, entre outros).
   Enfim, existem muitas oportunidades na bolsa que tendem a gerar muito valor para o investidor no longo prazo. Lembrando que essa lista de setores é exemplificativa, não é exaustiva, existem outros setores resilientes que tendem a distribuir bons dividendos regularmente e possuem bons fundamentos. Apenas preferi comentar sobre aqueles setores blindados que eu considero mais tradicionais. Também quero lembrar ao colega investidor que não pretendo aqui neste artigo fazer recomendações de investimento, pois todos sabem que se trata de um blog amador. Espero ter contribuído mais uma vez para a comunidade de investidores com este artigo.


Abraços,
Seja Independente

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