Olá Pessoal,
Neste artigo vou falar sobre um assunto
específico da renda variável, os setores da economia. Primeiramente, é
importante salientar que uma das finalidades da renda variável é garantir uma
renda passiva para o investidor através do pagamento de proventos, além de
garantir uma rentabilidade real acima da inflação, preservando o poder de
compra do investidor ao longo do tempo. O investidor inteligente reconhece que
o pagamento regular de proventos e o seu reinvestimento acelera
exponencialmente o efeito dos juros compostos na rentabilidade real acumulada
da carteira. Portanto, antes do investidor analisar os setores da economia e as
empresas, ele deve considerar esse detalhe como pressuposto básico.
Diante desse pressuposto, o investidor deve adotar como critério
principal na análise o nível de blindagem de cada setor, ou seja, selecionar as
empresas daqueles setores blindados contra crises econômicas, cujos fundamentos
não se alteram de forma substancial, como lucratividade, margem operacional,
geração de caixa, nível de endividamento e distribuição de dividendos.
Geralmente são setores que tem uma demanda inelástica, como por exemplo, o
setor financeiro, o setor elétrico, o setor de saúde, o setor de educação,
entre outros. Sabemos que, mesmo num ciclo econômico de baixa, o consumidor não
encerrará a sua conta bancária e deixará de consumir os produtos bancários, não
deixará de pagar a conta de energia, não deixará de pagar o plano de saúde da
família, e também não deixará de pagar a mensalidade escolar dos filhos. Entretanto,
o consumidor passará a eliminar da sua cesta de bens e serviços aqueles tidos
como “supérfluos” ou aqueles que podem ser substituídos por outros similares
mais baratos.
Iniciarei a minha abordagem selecionando aqueles setores que costumo
excluir da minha carteira previdenciária por não atenderem o critério da
blindagem e outros critérios. O primeiro setor a ser excluído é o setor
imobiliário, até pelo fato de ser um setor que eu conheço bem. Sou graduado
em Ciências Contábeis, mas nunca cheguei a exercer a profissão de fato, pois
desde que me formei atuo como gerente administrativo de uma construtora. É um
setor que necessita de um capital de giro muito elevado, costumam ser
alavancadas e dependem de um mercado aquecido com juros baixos, para que o
consumidor possa contrair um financiamento bancário ou direto com a
incorporadora. Além de tudo isso, ainda contam com uma mão-de-obra desqualificada
(pelo menos no Nordeste, não sei em outros regiões do Brasil e em outros
países, e antes que alguém venha me criticar peço para que deixe o
politicamente correto de lado se quiserem ler meus artigos), que dispensa
maiores comentários. Há quem argumente o fato de existirem algumas empresas do
setor com boa governança corporativa e bom dividend yeld que valem a pena
investir, como Ezetec e MRV. Bem, fiquem à vontade. Se o caro colega investidor
analisou os fundamentos de ambas e gostou, tudo bem, mas eu prefiro não
arriscar. E ainda me esqueci de mencionar o projeto de Lei dos Distratos que
está tramitando no Congresso com bastante dificuldade, cuja finalidade é dar um
pouco mais de segurança jurídica para os contratos e tem papel relevante para o
futuro do mercado imobiliário. O segundo setor a ser excluído é o setor de
consumo cíclico em geral, como alimentos, supermercados, lojas de todos os
tipos, indústrias de todos os tipos, companhias aéreas, entre outras. Numa
recessão, como a que houve recentemente, o consumo das famílias e o crédito
caem drasticamente, impactando fortemente o resultado dessas empresas. Nós
sabemos que o Brasil é um país instável historicamente, com governos
invariavelmente intervencionistas na economia, acarretando recessões ao longo
do tempo. Dessa forma, fica muito difícil para essas empresas manter um bom
nível de lucratividade, boas margens operacionais, uma boa geração de caixa e
um nível de endividamento saudável. Sem bons fundamentos, não haverá lucros
futuros e consequentemente não haverá dividendos a serem distribuídos,
impactando fortemente os resultados no longo prazo. Mas vale a pena aqui fazer
uma ressalva em relação à Ambev, uma empresa do setor de consumo de bebidas,
que por ter se tornado uma multinacional e ter se consolidado como líder no
mercado nacional pelo fato de possuir marcas que caíram no gosto do brasileiro,
ela se tornou uma exceção. É uma empresa com bons fundamentos e que tem gerado
valor para os seus acionistas, apesar de atualmente enfrentar forte
concorrência da Heineken. O terceiro
setor a ser excluído é o setor de exportação em geral, incluindo commodities,
papel e celulose, siderurgia, entre outros. É um setor complexo, que envolve
diversas variáveis e por isso costuma ter uma rentabilidade muito volátil. O
faturamento delas está atrelado ao câmbio, principalmente ao dólar. Sabemos que
a geopolítica global interfere diretamente na variação cambial. Além disso, a política
comercial dos países importadores interfere fortemente no resultado dessas
empresas. Sem contar os diversos problemas de conjuntura doméstica. Por isso,
fica muito difícil analisar empresas desse setor, mesmo que tenham uma boa
governança corporativa, pois a análise dos indicadores é de suma importância e
mesmo o melhor analista profissional terá dificuldade para tal, tamanha a
complexidade. O quarto setor a ser excluído é o setor de telefonia, mas
eu excluo mais por uma questão de preferência pessoal. O critério que eu
utilizo aqui é o de governança, pois essas empresas costumam ser mal
administradas (pelo menos é o que eu vejo nos relatórios de análise), e
particularmente como consumidor nunca gostei da prestação de serviço dessas
empresas, sempre achei um lixo. Vejam por exemplo o caso da Oi, que antigamente
pagava dividendos gordos todo ano e depois perdeu a capacidade de pagamento. É
bem verdade que as empresas desse setor costumam ter um bom dividend yeld, mas
esse indicador não deve ser analisado isoladamente, mas sim em conjunto com os
outros indicadores, vide o caso da Oi.
Após esse “filtro” dos setores, podemos escolher com mais clareza as
empresas que irão compor a nossa carteira previdenciária. Primeiramente, é
importante salientar que os setores de saúde e educação, apesar de possuírem
a natureza de consumo (prestação de serviços), não fazem parte do setor de
consumo cíclico, pelo menos na minha visão, pelo fato de serem setores
blindados contra crise, pois como havia falado anteriormente, nenhum consumidor
deixará de pagar o plano de saúde familiar e nem a mensalidade escolar dos
filhos. E aqui vale destacar o futuro promissor desses dois setores no país.
Sabemos que a demografia brasileira está mudando ao longo do tempo, com a
população idosa aumentando de tamanho, gerando uma demanda crescente por
serviços de saúde. Além disso, uma evolução tecnológica dos procedimentos na área
irá permitir um barateamento maior dos serviços, inclusive dos estabelecimentos
privados. Com isso, haverá uma demanda maior por parte das classes de renda
baixa, aumentando o faturamento do setor em escala. Em relação ao setor
educacional, sabemos que ficou claro e evidente, após a recessão, a necessidade
da mão-de-obra brasileira se especializar cada vez mais, tanto no ensino
técnico como no superior, para que possamos desenvolver urgentemente a nossa
infraestrutura e a nossa indústria, pilares essenciais para o crescimento
duradouro do nosso PIB. Acredito que com as reformas tributária e previdenciária,
aliadas a uma política de fortalecimento do setor privado, empreendedores
nacionais e investidores estrangeiros irão se sentir mais estimulados em
investir nesses setores. Já o setor financeiro brasileiro é um setor que
dispensa maiores comentários. Sabemos que o nosso setor bancário é o mais
lucrativo do mundo, gerando lucros bilionários ano após ano, mesmo em períodos
de crise. As seguradoras não são tão rentáveis quanto os bancos, pois é um
setor ainda em crescimento, mas que tem muita margem para crescer, ainda mais
levando em consideração a demografia e o iminente colapso da Previdência Social,
aumentando a procura por planos de previdência privada e seguro de vida. Vale
mencionar aqui também a empresa B3, que é a nossa bolsa de valores, que se
fundiu recentemente com a Cetip. É uma empresa com ótimos prognósticos, pois
tende a crescer bastante na medida em que a economia do país for se
desenvolvendo. Todo e qualquer país desenvolvido tem uma bolsa de valores
forte, com a entrada crescente de empresas que desejam abrir o seu capital ao
público investidor em geral. Temos também o setor elétrico, que se
destaca pela sua forte “blindagem” contra crise, pois a energia elétrica é um
produto com demanda totalmente inelástica, pois nenhum consumidor deixará de
pagar a conta de energia em momentos de crise, a não ser em casos extremos onde
o consumidor, por estar altamente endividado, perde a capacidade de pagamento. Mesmo
nesses casos raros, é algo que costuma ser temporário. Nesse setor, destaco a Taesa,
que é uma transmissora de energia elétrica. Ela recebe pela disponibilidade de
linhas transmissoras e não apenas pela quantidade de energia que é transmitida.
É uma das empresas mais blindadas do setor, se não for a mais, e costuma ter um
dividend yeld altíssimo. Também temos as geradoras, com seus portfólios de
hidrelétricas, termelétricas, eólicas, entre outras fontes. Possuem contratos
de concessão com prazos extensos, gerando valor para os seus acionistas por
décadas. Antes que eu me esqueça, também gostaria de tecer breves comentários
sobre os fundos imobiliários. Em minha opinião (quem quiser pode
discordar de mim), existem poucas opções de fundos imobiliários interessantes
na bolsa de valores. Muitos fundos possuem apenas um único imóvel, como fundos
de shopping centers, universidades, hospitais, entre outros. Acho isso muito
arriscado, pois todo o risco está concentrado em um único locatário ou poucos
locatários e em uma única região. Dou preferência na minha carteira a fundos de
lajes corporativas que se concentram em São Paulo (será a principal capital da
América Latina na próxima década) e outros estados das regiões sul e sudeste,
que tenham muita liquidez em relação aos demais e que tenham gestores e
administradores competentes reconhecidos pelo mercado (Intrag, Rio Bravo, BTG
Pactual, entre outros).
Enfim, existem muitas oportunidades na bolsa que tendem a gerar muito
valor para o investidor no longo prazo. Lembrando que essa lista de setores é
exemplificativa, não é exaustiva, existem outros setores resilientes que tendem
a distribuir bons dividendos regularmente e possuem bons fundamentos. Apenas
preferi comentar sobre aqueles setores blindados que eu considero mais
tradicionais. Também quero lembrar ao colega investidor que não pretendo aqui
neste artigo fazer recomendações de investimento, pois todos sabem que se trata
de um blog amador. Espero ter contribuído mais uma vez para a comunidade de
investidores com este artigo.
Abraços,
Seja Independente
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