Olá pessoal,
Alguns leitores já devem estar se perguntando por qual motivo irei falar
sobre dois livros em um único artigo. E eu respondo: porque eles são
complementares. Acredito que muitos investidores já devem ter ouvido falar
neles, inclusive já citei o livro de Nassim Taleb em alguns artigos deste blog.
São livros com uma abordagem filosófica, não apenas na área de investimentos,
mas em várias outras áreas da vida. Inclusive o autor do livro Rápido e Devagar
cita as ideias do livro de Nassim Taleb em vários capítulos para corroborar as
suas. É apenas um detalhe dentre vários outros que explicam porque esses dois
livros são tão complementares.
Primeiramente, vamos falar sobre o livro A Lógica do Cisne Negro. A
principal mensagem que o autor procura transmitir no livro é que devemos ser
antifrágeis, ou seja, que nós devemos formatar uma carteira de investimentos antifrágil,
que consiste basicamente em alocar ativos descorrelacionados, onde uns têm
baixa volatilidade e outros têm alta volatilidade, em uma proporção ideal de
forma que a carteira não seja abalada por “Cisnes Negros”. Para quem já leu o
livro ou um dos meus artigos em que cito-o, sabe que na verdade o autor
recomenda uma estratégia chamada Barbell (estratégia do supino), que consiste
em alocar 90% da carteira em títulos públicos e 10% em opções de ações. Pelos
motivos já explicados no último artigo em que falei sobre essa estratégia, não
curto muito adotá-la aqui no Brasil. Mas a antifragilidade pode ser
perfeitamente obtida por várias outras estratégias, já bastante discutidas nos
artigos publicados neste ano.
Já o livro Rápido e Devagar, do autor ganhador do prêmio Nobel de
Economia Daniel Kahneman é uma das obras filosóficas mais respeitadas da
atualidade. Suas ideias tiveram um impacto profundo em várias áreas, como
economia, psicologia, medicina e política. A principal mensagem que o autor
procura transmitir no livro é que a tomada de decisões de todo e qualquer ser
humano nunca será puramente racional, mas sim permeada por pensamentos,
sentimentos e impulsos. E isso é comprovado exaustivamente no livro através de uma
infinidade de pesquisas acadêmicas. No tocante a área de investimentos, o autor
comprova que o principal inimigo do investidor são as suas próprias emoções,
quando ele fala que o pensamento predominante na tomada de decisões é o de
perda, ou seja, mesmo sabendo que as probabilidades lhe são desfavoráveis, o
investidor persiste na decisão errada, pois o pensamento de perda é proporcionalmente
maior (mais impactante) do que o pensamento de ganho. O autor também fala sobre
vários outros vieses do comportamento humano, como confiança excessiva
(lembre-se sempre do círculo de competência), conforto cognitivo, associação
equivocada de ideias, e vários outros vieses.
Mas o colega investidor ainda deve estar se perguntando: “Por que eles
são complementares?”. Simples: eles transmitem a mesma mensagem, de formas
diferentes, mas é a mesma. E qual é a mensagem? Nenhum ser humano tem o
controle sobre o que irá acontecer no mundo no futuro. As variáveis externas
que influenciam todas as áreas da vida, não apenas a de investimentos, estão
fora do nosso controle. Nós temos controle apenas sobre os nossos hábitos.
Nenhum “especialista” pode prever a taxa básica de juros, a taxa de crescimento
do PIB, o resultado das próximas eleições, qual será a próxima invenção
tecnológica em tal área, quando (e se) haverá uma cura para o câncer, quando (e
se) haverá uma guerra mundial, enfim, é impossível prever qualquer coisa. Por
isso que tantos educadores financeiros pregam o seguinte: os fatores mais
importantes para a construção de patrimônio são tempo e aporte. Rentabilidade
está fora do nosso controle, pois podemos melhorar um pouco, mas nunca
determinar, “cravar”.
Para finalizar, gostaria de dizer que os dois livros são ótimas leituras
apesar de em alguns momentos serem enfadonhos, pois ambos têm uma linguagem um
pouco mais rebuscada e ambos são repetitivos, ou seja, poderiam ser resumidos
em menos capítulos (os autores são um pouco prolixos). Mas são importantes para
a construção de mindset do bom
investidor. Boa leitura!
Abraços,
Seja Independente
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