Olá pessoal,
Hoje irei comentar um pouco sobre um vídeo da Empiricus que viralizou na
mídia brasileira, onde uma moça jovem, loira, de olhos claros e com um bom
papo, chamada Betina, afirma ter iniciado os seus investimentos com um aporte
de R$1.520,00 e 3 anos depois alcançou um patrimônio de R$1.042.000,00.
Betina Rudolph da Empiricus |
Pois bem, antes de mais nada gostaria de deixar bem claro que se trata
de mais uma jogada de marketing agressiva da empresa Empiricus. Para quem não
ainda não conhece, se trata da talvez maior empresa de análise de investimentos
do país que sobrevive por meio de assinaturas com diversos clientes pessoa
física, cuja atividade é produzir relatórios (as chamadas newsletters) sobre os
diversos tipos de investimentos e enviar para os seus clientes. No caso, ela
recomenda alguns ativos específicos e expõe todos os argumentos possíveis para
tal nesses relatórios. Como a própria Betina explicou em diversas entrevistas
nos meios de comunicação após a repercussão fenomenal do vídeo, a Empiricus
precisa chamar a atenção das pessoas de alguma forma para que elas possam ter
algum interesse em assinar o pacote de serviços dela, pois caso contrário elas
continuarão investindo os seus parcos recursos poupados nos bancos, seja na
caderneta de poupança ou nos fundos de renda fixa com taxas abusivas, cuja
rentabilidade, nós já sabemos, é pífia.
Acredito que seja do conhecimento da maioria dos investidores que a
Empiricus tem problemas com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e com o
PROCON (Promotoria de Defesa do Consumidor), em virtude de algumas
recomendações de ativos específicos e de seu marketing agressivo. Mas não
pretendo entrar no mérito da questão. Apenas quero dizer uma verdade latente
que não quer se calar e deve ser dita para todos os brasileiros ouvirem, que é
a seguinte: a repercussão inesperada desse vídeo, que eu considero comum, expõe
a prova inconteste de que a sociedade brasileira padece de uma falta de
educação financeira tremenda. Muitos falam em “ingenuidade”. Mas essa
ingenuidade decorre justamente da nossa falta de educação financeira. Ora
bolas, como pode uma parcela da nossa sociedade supor que um único aporte de
R$1.520,00 investido durante um prazo de 3 anos pode se transformar em
R$1.042.000,00? Nem o melhor investidor do mundo de toda a história da
humanidade conseguiria tal façanha. Isso é totalmente impossível. Os únicos
caminhos possíveis para realizar tal feito seriam: apostar várias vezes na
loteria, apostar em diversos jogos no cassino e investir em um negócio
totalmente disruptivo, como foi o caso dos fundadores do Facebook e da Amazon, e
ainda assim contando com muita sorte em todas essas opções.
Após a repercussão do vídeo, Betina concedeu várias entrevistas nos
meios de comunicação para explicar ao público leigo como conseguiu atingir a
marca de 1 milhão de reais de patrimônio. Ela afirmou que começou com um aporte
de R$1.520,00, mas na época tinha diversas fontes de renda e, sendo assim,
continuou aportando mensalmente e investindo majoritariamente em uma carteira
diversificada de ações. Vamos supor que ela tenha conseguido investir em média
4 mil reais por mês ao longo desses anos, além do dinheiro que ela alega ter
recebido do pai. Isso daria um montante de 180 mil reais investidos. Ela
afirmou que possuía uma carteira de 20 ações. Vamos supor também que ela tenha
investido nas ações que mais se valorizaram nos últimos anos seguindo
recomendações da Empiricus, como foi o caso de Magazine Luiza, Vulcabras, Rumo,
RaiaDrogasil, Unipar, Fibria, Braskem e várias outras. Se a carteira dela tiver
performado muito acima do Ibovespa, com uma rentabilidade acumulada de,
digamos, sei lá, 500%, isso já transformaria aqueles 180 mil investidos em 900
mil reais. Percebam que é perfeitamente factível atingir tal patamar financeiro
através de aportes mensais em ações de forma disciplinada. E ela ainda conta
com uma grande vantagem a favor dela, que é a idade. Ela tem apenas 22 anos!
Ainda tem muito tempo pela frente para errar, aprender com os erros e aumentar
ainda mais o seu patrimônio.
Mas eu quero lembrar aos colegas investidores que rentabilidade passada
não é garantia de rentabilidade futura, tudo que sobe depois desce, assim como
tudo que sobe exageradamente também desce da mesma forma, portanto caso a
carteira de Betina seja composta por essas ações que performaram bem acima do
Ibovespa, provavelmente vai performar abaixo do Ibovespa nos próximos anos e,
sendo assim, ela terá que girar a sua carteira aumentando os seus custos e
gastando mais tempo analisando outras empresas. Por isso defendo a minha
postura conservadora nos investimentos, pois é muito melhor uma carteira que
performe a uma taxa razoavelmente boa, sem ser excepcional, ao longo do tempo,
do que uma carteira que performe de forma excepcional no curto prazo, mas no
longo prazo não consiga manter essa performance. Mas apesar desse importante
detalhe, ainda acho que Betina está no caminho certo. Independente da
estratégia adotada, ela assim como outros investidores estarão numa situação
financeira bem mais confortável no futuro do que a daqueles brasileiros que não
se preocupam com a sua própria previdência.
Na boa pessoal, falando sério, eu acho muito bom quando esse tipo de
vídeo repercute na mídia nacional, independente de ter sido de uma forma
negativa. Pois de certa forma acusa um problema crônico que atinge a sociedade
brasileira de uma forma geral, independente de classe social, que é a falta de
educação financeira e o consequente desinteresse em aprender mais sobre
investimentos financeiros, que não seja a caderneta de poupança e os imóveis. Para
corroborar o que estou falando, basta pesquisar sobre a quantidade de pessoas
físicas brasileiras que investem na Bolsa de Valores, são um pouco mais de 1
milhão de pessoas, num país com 200 milhões de habitantes. E, sinceramente, na
minha opinião, essa justificativa de que a renda média do brasileiro não o
permite acessar esses investimentos em Bolsa é pura besteira, puro vitimismo,
puro comodismo. Para vocês terem uma ideia, segundo a própria Betina numa
entrevista concedida a um veículo de comunicação, na Colômbia existem 3 milhões
de investidores em Bolsa e esse país possui uma população 4 vezes menor do que
a do Brasil, ou seja, 6% da população colombiana já investe em Bolsa. E aqui
esse percentual é de pouco mais de 0,5%. Na maior economia do mundo, esse
percentual é de 70%.
Eu espero, como brasileiro, que mais repercussões como essa surjam, para
que os brasileiros de todas as classes sociais enxerguem o potencial da nossa
Bolsa de Valores, que não é aproveitado em toda a sua plenitude.
Abraços,
Seja Independente
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