domingo, 22 de setembro de 2019

A pergunta que não quer calar: a taxa Selic caiu. E agora?


Olá pessoal,
                                                                                                                                                        
  Como todos devem saber, nessa última semana o COPOM (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cortou mais 0.5 pp (meio ponto percentual) da taxa Selic, fixando-a em 5,5% ao ano. E tenho visto muitos investidores perguntarem aonde deveria investir a partir de agora, após esse corte. Quem faz esse tipo de pergunta ainda não compreendeu o que é investir. Eu sei que é duro para alguns investidores ler esse tipo de comentário, mas é a verdade! Mas primeiro deixem-me explicar as razões para tal comentário.
  Primeiramente, o investidor deve compreender que existem 03 (três) pilares que sustentam qualquer investimento: rentabilidade, liquidez e segurança. Cada investimento deve possuir cada um desses três pilares, não necessariamente na mesma escala, mas em escalas diferentes. O que vai definir a escolha por um investimento é o objetivo a ser atingido pelo investidor, podendo ser: formar patrimônio e/ou receber renda passiva, diminuir o risco total da carteira, ou constituir reserva de emergência. Cada tipo de investimento vai atender cada um desses objetivos de acordo com os pilares mais fortes que cada um deles possui. Uns têm uma escala maior em rentabilidade, como as ações e os fundos imobiliários, então serão ideais para formar patrimônio e/ou receber renda passiva. Outros têm uma escala maior em liquidez, como o título público tesouro Selic ou a caderneta de poupança, então serão ideais para constituir reserva de emergência. Outros já têm uma escala maior em segurança, como os títulos públicos atrelados à inflação, então serão ideais para diminuir o risco total da carteira. Mas vale ressaltar que isso não quer dizer que esses investimentos não tenham os outros pilares. Eles têm sim, mas em menor escala. Por exemplo, quem pretende constituir uma reserva de emergência deve optar por investimentos com maior liquidez, ou seja, com maior facilidade para transformar em dinheiro. Os investimentos apropriados para formar patrimônio não possuem muita liquidez e, sendo assim, não devem ser escolhidos para tal finalidade.





  Diante do exposto acima, já podemos responder a pergunta que não quer calar: a taxa Selic caiu. E agora? E agora não muda nada. A estratégia de investimento permanece a mesma, sem alterações. Você poderá continuar aplicando no tesouro Selic sem se preocupar com a rentabilidade, pois esse pilar aqui não nos interessa. O que interessa aqui é a liquidez, pois esse investimento servirá para constituir a nossa reserva de emergência, podendo até diminuir o risco total da carteira, diga-se de passagem. Para aqueles investidores conservadores que investiam no tesouro Selic com o objetivo de formar patrimônio, não se preocupem. Essa lacuna aberta com o corte da Selic pode ser preenchida com uma alocação pequena em fundos de ações ou em ETF, como o BOVA11 ou o IVVB11, ou em fundos imobiliários. Se ainda assim se sentirem inseguros com posições em renda variável, mesmo que muito pequenas, lamento informar, mas mesmo na renda fixa (ou será perda fixa?), o risco não desaparecerá. Existem ativos de renda fixa com rentabilidades mais atraentes do que as dos títulos públicos, como os CDB de bancos e as debêntures de empresas, mas o risco de calote é maior. Você pode até questionar o seguinte: “Ah, mas caso eu leve o calote o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) irá me ressarcir”. Mas em alguns casos o FGC leva vários meses para ressarcir os credores que levaram calote (ver matéria). E aí entra a questão do custo de oportunidade. Enquanto você aguarda o ressarcimento, o seu dinheiro poderia estar rendendo em outro investimento. Resumindo, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O risco é inerente a todos os investimentos, sejam eles de renda fixa ou de renda variável. O que podemos fazer é administrar os riscos através de uma boa diversificação e posições em reservas de valor (criptomoedas e metais preciosos, por exemplo).
  Enfim, é primordial para o investidor compreender as peculiaridades de cada tipo de investimento. Não existe investimento bom e investimento ruim, mas sim investimento ideal para cada objetivo e para cada perfil. Não confundir com produtos bancários, como consórcios, títulos de capitalização e previdências privadas e fundos de investimentos com taxas de administração abusivas, que atendem única e exclusivamente aos interesses dos bancos e não aos interesses dos clientes. Não os considero como investimentos, pois em todos eles os pilares da rentabilidade e da segurança são frágeis ou quase inexistentes. As únicas exceções são a caderneta de poupança e raríssimos fundos de investimento com baixíssima taxa de administração, pois esses possuem o pilar da liquidez, somente. Hoje já é possível investir através de corretoras. Em menos de uma hora consegue-se abrir uma conta e muitas delas isentam o investidor de taxa de corretagem e taxa de custódia, vantagem que não existe nas corretoras dos grandes bancos. Fica a dica!

Abraços,
Seja Independente

domingo, 15 de setembro de 2019

O Brasil não voltará a crescer como antes!


Olá pessoal,
                                                                                                                                                        
  Hoje irei escrever um pouco de macroeconomia, mais especificamente sobre o crescimento do PIB (produto interno bruto) brasileiro nos próximos anos. Esse artigo é uma continuação da série de artigos sobre macroeconomia brasileira que já escrevi aqui no blog, e o último foi “Não sejamos otimistas demais!”, publicado em fevereiro. Mas dessa vez vou focar exclusivamente nos aspectos econômicos, sem me ater aos investimentos, pois deixei bem claro a minha posição nesses outros artigos.
  Pois bem, como muitos investidores devem saber, a média de crescimento do PIB brasileiro nas últimas três décadas, ou seja, nos últimos governos após a redemocratização, foi de 2,5% (dois e meio por cento) ao ano (ver gráfico). A maior parte dessa média, entre 1,5 e 2%, foi devido ao bônus demográfico que contribuiu para o aumento da força de trabalho, em todos os setores da economia. O restante da média se deveu de fato a eficiência na produtividade. Porém, esse bônus demográfico não existe mais, pois a tendência no Brasil é de famílias terem menos filhos, diminuindo a taxa de natalidade, o que, por conseguinte, diminui o crescimento da força de trabalho no longo prazo. Mas o problema não é apenas esse. Como muitos investidores bem informados devem saber, uma boa parte da força de trabalho brasileira é composta por jovens e adultos com péssimo nível educacional, onde muitos têm dificuldade de interpretar textos e calcular as quatro operações básicas (são analfabetos funcionais) e tampouco sabem falar e escrever um segundo idioma como também possuir noções básicas de informática. Isso é um grande entrave para o crescimento da produtividade. Além disso, também sabemos que o Estado brasileiro sempre foi o principal indutor do nosso crescimento econômico, através de investimentos em infraestrutura e em serviços públicos, como saúde e educação. Quando explode uma crise como essa última agora, faltam recursos para esses investimentos, impactando fortemente no crescimento do PIB.




  Portanto, é de se esperar que no curto e médio prazo o PIB brasileiro não voltará a crescer no mesmo patamar de antes. Isso é fato! Para voltar a crescer serão necessárias algumas medidas enérgicas que consigam sobrepujar a lacuna aberta deixada pela perda do bônus demográfico. A primeira delas é fortalecer a iniciativa privada e diminuir o tamanho do Estado brasileiro, pois este depende do anterior para sobreviver. Sem arrecadação de impostos, o Estado perde a capacidade de investir em infraestrutura e em serviços públicos básicos. A segunda medida é investir em educação básica de forma eficiente para que as futuras gerações possam ter condições de se qualificar para o mercado de trabalho. Mas essa medida requer muito tempo para gerar frutos. Até lá a terceira medida ajudará no crescimento do PIB, que é uma maior abertura comercial e uma maior importação de capital financeiro, físico e humano, mais especificamente direcionado para o nosso principal setor econômico, o agronegócio. A economia doméstica brasileira, isoladamente, não tem potência suficiente para destravar o crescimento do nosso PIB nas próximas décadas.
  Enfim, acredito que temos potencial para voltar a crescer como antes, mas implementando as medidas elencadas acima. Sendo implementadas, nosso PIB tem potencial para crescer até mais do que a média das últimas décadas. Não acredito que a nossa economia ficará estagnada, como aconteceu com o Japão, por exemplo. Até porque o Brasil possui vantagens que outros países não têm, como potencial agrícola gigantesco, população economicamente ativa grande (por enquanto) e boas relações diplomáticas com o restante do mundo. Por isso eu digo: o Brasil não voltará a crescer como antes, pois vai crescer mais!
 
Abraços,
Seja Independente